"As Identidades Assassinas", por Amin Maalouf
“ Aos que me fazem a pergunta (se se sente mais Libanês ou mais Francês), explico pois, pacientemente, que nasci no Líbano, aí vivi até aos 27 anos, que o árabe é a minha língua materna, que foi na tradução árabe que descobri Dumas, Dickens e as Viagens de Gulliver, e que foi na minha aldeia das montanhas, a aldeia dos meus antepassados, que conheci as primeiras alegrias de menino e ouvi certas histórias em que me iria inspirar mais tarde, para os meus romances. Como poderia esquecê-lo? Como poderia alguma vez desligar-me dessa realidade? Mas, por outro lado, vivo há vinte anos em França, bebo a sua água e o seu vinho, as minhas mãos acariciam todos os dias as suas velhas pedras e escrevo os meus livros em Francês. Nunca poderia senti-la como uma terra estrangeira. Metade Francês, metade Libanês? De modo algum! A identidade não se compartimenta, nem se reparte em metades, nem em terços, nem se delimita em margens fechadas. Não tenho várias identidades, tenho apen