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Cláudio Torres: D. Afonso Henriques não conquistou Lisboa aos mouros, foi aos cristãos

Carlos Torres e Alexandre Azevedo, SÁBADO 23/02/2018 O arqueólogo, especialista em cultura islâmica, desfaz vários mitos da História. Defende que não houve invasões muçulmanas em massa na Pensínsula Ibérica. "As coisas não foram bem assim. A arqueologia tem uma linguagem diferente da história escrita", conta. "A história escrita é escrita por aqueles senhores que sabem escrever, enquanto a arqueologia vai buscar os restos dos que não sabem escrever. São coisas habitualmente contraditórias. Hoje sabemos, por causa da arqueologia, que não houve nenhuma invasão em 711, não vieram exércitos nenhuns. As grandes religiões do Mediterrâneo, o judaísmo, o cristianismo, o islão, que vieram da zona do actual Líbano e Israel, obviamente que não são nunca impostas pelas armas. São religiões de salvação, a sua força tem a ver com o Além. Quer dizer, as pessoas aqui vivem na miséria, são dominadas pelos ricos, mas a sua vingança é depois da morte. Aí, eles é que man

Garcia de Orta, Goa (c. 1500-1568)

Há 450 anos foi o primeiro médico europeu a escrever um livro sobre as plantas medicinais do Oriente. "Colóquios dos simples, e drogas he cousas mediçinais da Índia" foi publicado a 10 de abril de 1563, em Goa, onde Garcia de Orta viveu e onde viu o seu livro tornar-se no primeiro best-seller português. Fugindo às fogueiras da Inquisição, que já se perfilavam no horizonte ameaçando obscurecer o céu azul da cosmopolita Lisboa do século XVI, o jovem médico Garcia de Orta, natural de Castelo de Vide, filho de judeus sefarditas espanhóis, embarca para a Índia no dia 12 de março de 1534, na armada de cinco naus comandada por Martim Afonso de Sousa, futuro vice-rei das Índias. Parte no total anonimato – os cronistas da época nem sequer registam o seu nome entre os tripulantes –, no entanto, o ex-professor universitário da Universidade de Lisboa conquistará a fama imortal ao escrever um dos primeiros best-sellers renascentistas: Colóquios dos simples, e droga

Sufismo: a importância dos carismas e prodígios na obra de Ibn Al Arif

Por volta de 1109, inicia-se uma perseguição contra alguns sufis do al-Andalus, com a queima das obras de Abū Ḥāmid al-Ghazālī (m. 1111). Marraquech tornara-se uma cidade de repressão anti-almorávida e é neste contexto que surgem alguns movimentos, de entre os quais o movimento muridínico levado a cabo por Ibn Qasī (m.1151), nascido em Silves, no Algarve contra os almorávidas. Nesta época, os místicos mais afamados eram precisamente Ibn Barraŷān de Sevilha, conhecido como Al-Gazālī de al-Andalus, Ibn al-‘Arīf de Almería, considerado o representante máximo do Sufismo no al-Andalus, e Ibn Qasī de Silves. Ibn al-‘Arīf destacou-se através das obras Mahāsin al-majālis (Esplendores dos Ensinamentos Sufis), onde refere as diferentes etapas do caminho espiritual e Miftāḥal-sa’āda wataḥqīq ṭarīq al-sa’āda (A Chave da Felicidde e a Realização do Caminho Espiritual do Êxtase), onde o autor apresenta algumas orações, textos de exegese corânica e ciência religiosa, teologia e etapas

Francis Fukuyama: o Islão político como ameaça à democracia no Médio Oriente

«Existe um factor cultural óbvio que complica seriamente a possibilidade da democracia no Médio Oriente: o Islão. Um grande número de sociedades de maioria muçulmana tem sido obrigado a enfrentar grupos de islamitas militantes e antidemocráticos: não houve nenhuma ameaça semelhante às transições democráticas da Terceira Vaga na Europa de Leste e na América Latina. Na perspectiva de vários observadores, o Islão constitui um obstáculo insuperável à emergência da democracia porque nunca aceitou o princípio da separação entre a Igreja e o Estado e tem uma longa tradição de militância religiosa violenta. Organizações islamitas como a Ennahda na Tunísia e a Irmandade Muçulmana no Egipto, que têm jogado pelas regras democráticas, são frequentemente acusadas de usar a democracia como instrumento de conquista do poder; a sua verdadeira agenda é a criação de Estados teocráticos iliberais. A ascensão destes grupos leva os governos autoritários conservadores a reprimi-los, dando o