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A mostrar mensagens de julho, 2020

Poesia Luso-Árabe

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No ano de 1031 cai o Califado de Córdoba e o Al-Andalus divide-se em reinos independentes, que ficaram conhecidos pelo nome de Reinos de Taifas (do Árabe Muluk At-Tawaif, ou reinos fraccionados). O poder centralizado do Califado Omíada, cada vez mais dependente de uma máquina administrativa pesada e geradora de pesados impostos, aliado aos desejos de autonomia das inúmeras etnias que povoavam o Andalus, estão na origem deste fraccionamento do poder político. No Sul do território hoje ocupado por Portugal, o Gharb Al-Andalus, ou Ocidente do Al-Andalus, constituem-se quatro reinos de taifas - um grande reino na zona mais a Norte com capital em Batalyaws (Badajoz), um reino correspondendo à região do Baixo Alentejo com capital em Mârtula (Mértola) e dois reinos no actual Algarve, concretamente os reinos de Xilb (Silves) e Xantamarya Ibn Harun (Faro). É neste período que floresce uma cultura Hispano-Árabe, sobretudo ao nível da poesia, resultado de uma identidade local criada

Mouriscos cavaleiros e mouriscos de bens no Império Português

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O conceito de mourisco, no caso português, difere muito do conceito utilizado pelos historiadores dedicados aos moriscos espanhóis. Se, para eles, os mouriscos eram os descendentes de mudéjares nascidos na Península Ibérica, em nosso caso entendemos que o termo mourisco abrangia muçulmanos de origem diversa, batizados no cristianismo, inclusive os nascidos em Portugal. Na prática, a maioria era mesmo estrangeira, sobretudo do Norte da África, ao contrário dos mouriscos espanhóis, entre os quais predominavam os nascidos na Península. Não obstante a pobreza e degradação que, no geral, marcavam a condição dos mouriscos no reino português, incluindo os forros, é-nos possível constatar, numa amostragem de 349 réus processados pela prática do cripto-islamismo pela Inquisição, que alguns mouriscos receberam mercês e privilégios e outros e outras desfrutavam de certas posses que os fazia, por vezes, passar por gente rica. Mas, em boa verdade, poucos conseguiram superar as difíc

Da origem árabe dos Senhores da Maia

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No Reino de Portugal, em finais do século XIII, os representantes das mais antigas famílias de infanções do entre Douro e Minho, nos relatos linhagísticos que produziram, fizeram remontar as suas origens, também, a ascendentes árabes. Tudo na procura de uma autoridade, uma antiguidade que legitimasse a sua invocação de velha nobreza, ante o poder hegemónico da recente Casa Real portuguesa. Desta forma, aqueles senhores afirmaram a maior antiguidade das suas famílias, declarando que as mesmas, havia séculos, eram os verdadeiros conquistadores, construtores do reino de Portugal. A Casa Real era de recente data e de origem estrangeira, transpirinaica; não, como eles, de secular origem peninsular, na qual se entroncava também o sangue árabe. Assumem, portanto, uma clara origem, étnico-cultural, moçárabe, origem onde se fundiram as elites cristãs e as elites muçulmanas, e dando, portanto, substância sociológica à cultura andalusi, cultura simbiótica, e que constituiu o quadro de referênci

Os muçulmanos que Portugal expulsou e esqueceu

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Lei que confere a nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas ignora “mouros” também expulsos em 1496 MARTA VIDAL / EXPRESSO Brafame Gordo e o seu irmão Galebo partiram do Alentejo tão contrariados que chegaram mesmo a pedir autorização ao rei para os deixar regressar. Numa petição dirigida à coroa portuguesa (hoje guardada na Torre do Tombo) dão o nome de três cristãos seus vizinhos em Elvas, que poderiam fornecer recomendações, e pedem para voltar para Portugal e para lá viver com as suas famílias “assim mouros como sempre foram.” Como os irmãos Gordo, outros muçulmanos tentaram regressar para as suas terras de origem, de onde foram expulsos.  Em Dezembro de 1496, um édito do rei D. Manuel I, denominado “Que os Judeus e Mouros forros se saiam destes Reinos e não morem nem estejam neles,” decretou que as minorias religiosas deveriam partir no prazo de dez meses. Os judeus e muçulmanos que não o fizessem seriam condenados à morte e os seus bens