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A mostrar mensagens de março, 2018

As minhas memórias da Síria

Os senhores da guerra decidiram acabar com a Síria, infligindo os maiores horrores aos seus habitantes, enquanto a comunidade internacional assiste indiferente perante esta grave situação. Narciso Machado*/Público As imagens transmitidas pelas televisões não deixam margem para dúvidas: montes de ruínas, prédios com paredes esventradas, crateras nas ruas, montes de entulho e por baixo das ruínas um número incontável de mortos, a maioria civis. Nas viagens de turismo que realizei a vários países árabes/muçulmanos (Marrocos, Tunísia, Egito, Jordânia, Síria) e Turquia, as cidades cujas culturas mais me surpreenderam foi, sem dúvida, as cidades sírias de Damasco (capital), Alepo e Palmira. Alepo, hoje cidade mártir, para além de ser a capital económica do país, então com 3 milhões de habitantes, é uma das cidades mais antigas do mundo, com cerca de 4000 anos, sempre habitada. A primeira referência a Alepo, que se conhece, reporta-se mais precisamente a 1780 a.

Alhazen, o primeiro cientista (séc. X)

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Gravura representando uma experiência conduzida por Alhazen, físico e matemático árabe do séc. X, que observou como se formavam as imagens no interior da sua tenda quando a luz do sol passava pelas frestas do tecido. Nos seus tratados de óptica, Alhazem descreveu os príncípos da “câmara escura”, a base da fotografia moderna. Numa experiência que realizou, numa sala escura, um pequeno buraco na parede deixava passar a luz do lado de fora. Colocou várias lâmpadas fora da sala e observou que um número idêntico de pontos de luz aparecia dentro da sala, na parede oposta ao buraco. Ao colocar um obstáculo entre a lâmpada e o buraco, um ponto de luz desaparecia e ao retirar o obstáculo o ponto de luz reaparecia. Logo percebeu que cada lâmpada e o seu correspondente ponto de luz eram alinhados perfeitamente numa linha recta que passava pelo buraco. Desta forma simples, Alhazen provou que a luz viajava em linha reta, defendendo assim a teoria da propagação retilínea da luz. Essa definição

Maria João: "Eu sou branco e preto. A soma de duas coisas. Olha que sorte!"

Maria João: “É como se fosse uma atleta de alta competição” VANESSA FIDALGO, Correio da Manhã, 18/03/2018 Maria João não pára. Este ano terá dois   discos   novos   -   um   com   os Ogre e outro com a poesia de Aldir Blanc - e muitos concertos. Com Mário Laginha, com as Moçoilas, com Egberto Gismonti etodos os outros parceiros que se quiserem aventurar. A entrevista com quem não acredita em "vozes direitas e afinadinhas". Tem vários projetos entre mãos. Como consegue dividir-se por tanta coisa? De onde vem essa ‘insatisfação’? Eu sou muito curiosa e a música – juntamente com o meu filho – é o grande   amor   da   minha   vida.   Eu adoro música, sou completamente viciada. Se houver um dia que não tenha música, eu arranjo maneira de   a   fazer.   Não   é preciso   receber nada   em   troca. Sempre tive esta disposição. Também há o lado do negócio da música, que às vezes é complicado. Mas eu sempre quis fazer muita coisa. Se gosto, aceito. Como é que

Porque nós, russos, já não respeitamos o Ocidente

"Essencialmente, o ‘ocidente’ deveria estar horrorizado, não porque 76% dos russos votou em Putin, mas porque essas eleições demonstraram que 95% da população russa apoia ideias conservadoras-patrióticas, comunistas e nacionalistas. Significa isto que ideias liberais lutam para singrar só entre míseros 5% da população. Culpa totalmente vossa, amigos ‘ocidentais’. Vocês nos empurraram para esta atitude do tipo “nós russos nunca nos rendemos”. Quantas e quantas vezes já disse a vocês que procurassem especialistas normais, para vos aconselharem sobre a Rússia. Demitam essa legião de parasitas que vos aconselha. Com vossas sanções e palas que vos cobrem os olhos,  a humilhação impiedosa a que submeteram os atletas russos (inclusive para-atletas), com os “skripals” e acintoso descaso pelos mais básicos valores da civilização, como a presunção de inocência, que os ‘ocidentais’ manobraram de modo hipócrita; combinada à imposição de ideias supostas muito liberais em seus países, à

O Êxodo Português para o Império Otomano

Segundo o historiador Carsten Wilke, a expulsão de Espanha dos sefarditas foi um dos acontecimentos mais traumatizantes da história judaica até ao Holocausto do séc. XX. Beyazit II, filho de Mehmet II, ordenou que os seus funcionários deixassem entrar os sefarditas no Império Otomano. Cerca de duzentos mil judeus foram assim acolhidos pelo Império, e destes, cem mil fixaram-se na Salónica e em Istambul. É de Beyazit II a célebre frase «O Rei Fernando de Espanha não é sábio como se diz, ele empobrece o seu Reino para enriquecer o nosso». O sultão referia-se à cultura e aos conhecimentos médicos, náuticos, matemáticos, filosóficos, linguísticos que muitos dos sfaradim haviam levado consigo para o império. As comunidades judaicas eram predominantemente urbanas e dividiam-se por países de origem em congregações (kehillah). A kehillah portuguesa era designada por «Portakal» a palavra otomana para Portugal. Em geral, o proselitismo não foi uma parte integrante da

Sintra e os Mundos Subterrâneos

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lusophia.wordpress.com Sintra e os Mundos Subterrâneos – Conferência pública de Vitor Manuel Adrião «Lusophia lusophia 19-27 minutes O autor anónimo desse poema sintrão é João da Cruz, frade jerónimo do Convento de Nossa Senhora da Pena de Sintra, segundo indicação de João Rodil que foi quem descobriu essa obra perdida num alfarrabista de Lisboa e a deu à estampa em 1993, na mesma vila de Sintra, acrescida de esboço analítico-descritivo, transliteração e notas da sua autoria. Abri esta intervenção com excerto desse poema por entender enquadrar-se e justificar quanto se segue empós. Antes de tudo, o texto relaciona Leo ou Leão à Cristandade, isto por Cristo ser o “Leão de David”, que é dizer, descendente dessa Casa Real de Israel, esta com o Judaísmo representado por Áries ou o Cordeiro (Pascal), enquanto o Islão fica assinalado em Taurus ou o Touro simbólico da força viril do Corão de Mahometh. De certa maneira isso vem ao encon

Giraldo, o Sem Pavor

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GIRALDO, por Frederico Mendes Paula, in "Aventar" O pérfido galego Ibn Arrik, senhor de Coimbra – o maldito de Deus! – conhecia bem a valentia do cão do Giraldo. O pensamento constante deste era tomar à traição as cidades e os castelos, só com a sua gente: ele tinha os muçulmanos da fronteira sob o terror. Este cão avançava, sem ser apercebido, na noite chuvosa, escura, tenebrosa e, insensível ao vento e à neve, ia contra as cidades. Para isso levava escadas de madeira de grande comprimento, de modo que com elas subisse acima das muralhas da cidade que procurava surpreender; e quando a vigia muçulmana dormia, encostava as escadas à muralha e era o primeiro a subir ao castelo. E empolgando a vigia dizia-lhe: – Grita como tens por costume de noite que não há novidade! – E então os seus homens de armas subiam acima dos muros da cidade, davam na sua língua um grito imenso e execrando, penetravam na cidade, matavam quantos encontravam, despojavam-nos, e levavam todos os cativo