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Um excerto de Vença Todas as Discussões, de Mehdi Hasan

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  CONQUISTAR UM PÚBLICO Conceber uma apresentação sem ter um público em vista é como escrever uma carta de amor e endereçá-la a «Ex.mos Srs.». – Ken Haemer, perito em design Estávamos num fim de tarde frio e invernoso, no Sudoeste rural de Inglaterra, em fevereiro de 2012. Fora convidado para me juntar ao principal programa político da BBC Radio 4, o Any Questions? O programa é transmitido com a presença do público, cujos elementos podem fazer perguntas aos participantes, que costumam ser um misto de políticos e de comentadores. Naquela noite estávamos na vila de Crewkerne, que tem sete mil habitantes, e quando subi ao palco, na Wadham Community School, olhei para o público ali presente. O espaço estava lotado, mas bastam três palavras para descrever a audiência: idosos, brancos, conservadores. Cheguei-me ao convidado David Lammy, um membro do parlamento que pertence ao Partido Trabalhista e é negro, e murmurei: «Devemos ser as únicas pessoas de cor, e com menos de quarent

A lenda de Gaia (ou do Rei Ramiro)

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  A existir um grande elemento que caracteriza as lendas portuguesas de Mouros e Cristãos é o de um amor que tende a surgir entre eles, terminando quase sempre com o casamento - e conversão - de uma bela princesa moura. A lenda de Gaia (a cidade ao pé do Porto ), também conhecida como lenda do Rei Ramiro em virtude do seu herói, transporta-nos para esse mesmo imaginário popular, mas com algumas especificidades curiosas, como podemos ver através de um breve resumo: A lenda de Gaia diz então que Ramiro foi o segundo rei desse nome em Leão e viveu na primeira metade do século X. Apesar de já ser casado - algumas versões dizem que o nome da esposa era Aldora, outras chamam-lhe Gaia - apaixonou-se por um bela princesa moura, mas o irmão desta, um tal Alboazer, não a quis dar em casamento. Então Ramiro raptou-a, levou-a para Leão, converteu-a ao Cristianismo e deu-lhe o nome de Artiga . Porém, face a este rapto Alboazer não se manteve impávido e sereno. Em vez disso, raptou Aldo

Gerra de Mentiras

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  "Ima­gine uma fa­mília is­ra­e­lense no ki­butz de Be’eri, em volta da mesa do al­moço, antes da pas­sagem por lá do mor­tí­fero Hamas. O mo­vi­mento ter­ro­rista chegou e olha o que eles fi­zeram: os olhos do pai foram ar­ran­cados di­ante dos seus fi­lhos. Os seios da mãe foram cor­tados, os pés da filha, am­pu­tados e os dedos do filho, de 7 anos de idade, foram cor­tados antes dele ser exe­cu­tado. Não surgiu qual­quer tes­te­munha dessa si­tu­ação in­só­lita. Nem podia haver, porque não foi en­con­trado no ki­butz o corpo de qual­quer cri­ança entre 6 e 8 anos de idade. O in­ventor da his­tória foi Yossi Landau, da or­ga­ni­zação Zaka, que se de­dica à busca e iden­ti­fi­cação de ca­dá­veres e, prin­ci­pal­mente, à cri­ação de acu­sa­ções falsas ao Hamas e aos pa­les­tinos. Os 40 bebês de­ca­pi­tados, os bebês en­con­trados em fornos, os civis is­ra­e­lenses tor­tu­rados, mu­ti­lados, des­mem­brados, cor­tados em pe­daços etc... Di­fícil crer que te­nham exis­

Mouros e Mouras encantadas

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  Lenda da Moura No tempo em que os mouros habitaram o concelho de Vila de Rei fixaram-se em vários locais. Um deles designado por Penha (lapa) do Aivado, local de grutas escavadas na rocha. Conta a lenda que havia na Penha do Aivado uma moura, que estava para ter um filho, mandou então pedir ajuda a uma mulher parteira da povoação mais próxima – as Cortelhas. A mulher foi em auxílio da moura e esta como recompensa deu-lhe três carvões e disse-lhe que os guardasse. Quando chegasse a casa deveria colocá-los na cantareira e no outro dia pela manhã veria o que tinha acontecido. A mulher, pelo caminho, pensando na inutilidade dos carvões deitou dois fora que foram apanhados pelo mouro que a seguia prevendo já a atitude da mulher. Quando chegou a casa, a mulher colocou o carvão, que lhe restava na cantareira tal como a moura tinha recomendado. No outro dia pela manhã foi à cantareira ver o que tinha acontecido – o carvão transformara-se em ouro. A mulher foi então à procura d

Nada vimos em Gaza

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      1. “Nunca vimos nada assim.” “Nunca vi isto.” “Jamais.” “É sem precedentes.” “Isto tem de parar.” “Isto tem de acabar.” Todos os dias mais alguém das Nações Unidas (incluindo o secretário-geral), ou algum responsável de outra instituição internacional diz uma destas frases sobre Gaza. A última que li: “Nunca vimos 2,2 milhões de civis forçados à fome em semanas”, disse à Al-Jazeera o relator especial da ONU para o direito à alimentação, Michael Fakhri . “ Nunca vimos este nível de fome usada como arma tão rapidamente, e completamente, jamais. ” E isto nem era o lead da notícia. O lead era que todas as crianças até cinco anos em Gaza não estão a receber nutrição suficiente, e correm o risco de danos físicos e mentais permanentes. Todas as crianças até cinco anos. Que em Gaza são 335 mil. O equivalente a mais de metade das crianças dessa idade em Portugal. Pensemos em mais de metade das crianças que são nossas filhas, netas, sobrinhas, filhas de amigos, afilhadas. E