Mouros e Mouras encantadas



 

Lenda da Moura

No tempo em que os mouros habitaram o concelho de Vila de Rei fixaram-se em vários locais. Um deles designado por Penha (lapa) do Aivado, local de grutas escavadas na rocha. Conta a lenda que havia na Penha do Aivado uma moura, que estava para ter um filho, mandou então pedir ajuda a uma mulher parteira da povoação mais próxima – as Cortelhas. A mulher foi em auxílio da moura e esta como recompensa deu-lhe três carvões e disse-lhe que os guardasse. Quando chegasse a casa deveria colocá-los na cantareira e no outro dia pela manhã veria o que tinha acontecido. A mulher, pelo caminho, pensando na inutilidade dos carvões deitou dois fora que foram apanhados pelo mouro que a seguia prevendo já a atitude da mulher. Quando chegou a casa, a mulher colocou o carvão, que lhe restava na cantareira tal como a moura tinha recomendado. No outro dia pela manhã foi à cantareira ver o que tinha acontecido – o carvão transformara-se em ouro. A mulher foi então à procura dos carvões que tinha deitado fora, mas já não os encontrou.

Recolha efectuada em Fundada – Concelho de Vila de Rei por José Carlos Duarte Moura

A Fonte Coberta

Em um sítio chamado a Fonte Coberta, nas proximidades de Lagos, existe encantado um mouro ou uma moura. Em certa ocasião foi uma pobre mulher buscar água à fonte, e ao afastar-se viu duas esteiras com belos figos secos a enxugar ao sol.
No Algarve há por assim dizer duas diversas exposições de figos:
uma por ocasião de seca geral, e é quando o figo, apanhado já muito maduro, pincre, lhe chamam os algarvios, é conservado ao sol até secar de todo, e capaz de entrar nas tulhas de cana ou gamão, onde é acalcado e conservado; a outra, para consumo da família, sendo previamente lavado e posto ao sol a enxugar.
Não pôde a pobre mulher resistir ao desejo de lançar mão a alguns figos e apanhou cinco. A certa distância reparou que era seguida de uma criancinha a chorar, chamando pela mãe.
Perguntou a mulher à criança por que razão chorava, a criança porém em vez de dar qualquer resposta chorava cada vez mais.
Comoveu-se ela, e na suposição de que a criança tinha fome, meteu a mão nos bolsos e tirou dois figos para lhe dar. Qual não foi o seu espanto quando em lugar do figos se encontrou com cincos peças de ouro!… Nesse mesmo momento a criança desapareceu, aparecendo em seu lugar um homem trigueiro, vestido ao modo dos maltezes, de barrete vermelho e com um varapau na mão.
Atemorizou-se a mulher do súbito aparecimento do homem; este, porém, respondeu-lhe:
— Bruta, que não soubeste aproveitar-te dos figos, podendo apanhar os que quizesses!
E ao mesmo tempo que disse estas palavras também desapareceu.
Em outra ocasião passou junto da mesma fonte uma tendeira, chamada Mariana, e viu próximo uma criancinha de barrete encarnado. A tendeira ficou naturalmente surpreendida e atemorizada, porque já a esse tempo ouvira dizer que ali apareciam mouros encantados.
A criancinha, porém, sem fazer reparo na surpresa da tendeira, aproximou-se-lhe e disse:
— Dou-te uma boa porção de feijões, se me prometeres não os distribuires por outras pessoas.
E ao mesmo tempo mostrou-lhe uma boa porção de feijão branco.
A mulher prometeu à criança cumprir a condição e encheu uma alcofa do referido legume.
Mais adiante encontrou ela um homem e pediu-lhe com muitas instâncias que lhe desse os feijões, que levava consigo. Respondeu-lhe a mulher que lhos não podia dar, pois os recebera com a condição de os não distribuir por ninguém. Impôs-se-lhe o homem dizendo que a criança era seu filho, e que este lhe oferecera os feijões sem a sua autorização. A mulher abriu a alcofa e ficou admirada de encontrar os feijões substituídos por belos pintos antigos de prata.
O homem disse-lhe:
— Não te aconselharam a que não desses a ninguém os figos?…
Quando a mulher ia a dar a resposta, já não viu o homem: tinha desaparecido como o fumo.
Estes dois casos e muitos outros andam na memória de toda a gente que reside próximo da fonte. Os velhos contam-nos por os ter ouvido contar aos seus avós, e estes aos seus avoengos. Como em muitas outras lendas de mouras encantadas, desconhece-se a razão por que ali se encontram encantados os tristes mouros.
Estes contos são sempre ouvidos com o profundo respeito de quem assiste à narração de um milagre autêntico.

OLIVEIRA, Francisco Xavier d’Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve Loulé, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.245-246

A Fonte de Espiche

Próximo da Fonte de Espiche morava em tempos, que já lá vão, um pobre homem, se é que morada se pode chamar ao campo desnudado, onde ele, ao relento, estendia sob uma árvore os membros cançados e lassos.
Em uma noite deixou-se ele adormecer ao abrigo de umas balsas junto daquela fonte. Seria meia noite, hora destinada aos seres que andam pelos ares ou caminham por extraordinários processos, acordou o pobre homem ao tropel de duas cavalgaduras, em uma das quais montava um cavaleiro trazendo à garupa uma formosa moura e a outra era conduzida por um criado e vinha carregada com dois baús.
O cavaleiro mostrava um aspecto triste e severo. Apeou-se junto da fonte, pegou na moura e lançou-a dentro e logo atrás caíram os dois baús, acompanhando estes movimentos das seguintes palavras:
— Aí ficas encantada, filha minha, até que haja quem neste sítio semeie salsa regada com água do maná, cresça e floresça.
Disse estas palavras e tudo desapareceu. O pobre homem ficou por muito tempo a pensar nas palavras do mouro. Ele conhecia perfeitamente a salsa, planta da família das umbelíferas, mas do maná só tinha o leve conhecimento do que ouvira contar a sua mãe por ocasião do povo hebreu andar pelo deserto. Viu logo o pobre que a palavra maná deveria ser tomada em sentido cabalístico, e neste intento, apenas nasceu o sol, dirigiu-se a uma horta e dela trouxe uma boa porção de salsa que plantou em redor da fonte. Em seguida foi à próxima igreja e pediu ao pároco lhe benzesse uma boa vazilha cheia de água. Logo que a água foi benta pôs-se a regar a salsa com esta água que, pelo facto de ser benta, devia ser miraculosa, como miraculoso fôra o maná caído no deserto.
Em pouco tempo começaram a aparecer os primeiros botões da salsa e a manifestar-se a sua florescência. Desse tempo em diante o homem não desamparou a fonte. Na primeira noite em que se manifestou completa a florescência da salsa, ao dar as doze horas, apareceu a moura, saindo das águas da fonte ainda mais bela do que Venus evolando-se da espuma do mar. A jovem agradeceu ao pobre o desencantamento e entregou-lhe os dois baús cheios de ouro e de pedras preciosas, que do fundo da fonte a tinham acompanhado até sair da mesma.
O pobre homem transportou durante a noite todos os valores para o fundo de um oculto barranco, e daí tirava o dinheiro necessário para pagar as compras dos grandes prédios que todos os dias fazia com verdadeiro espanto de toda a gente.
Casou em seguida e teve muitos filhos que se tornaram conhecidos na província do Algarve e até na corte onde casaram com damas do Paço, que lhes deram uma descendência numerosa.

OLIVEIRA, Francisco Xavier d’Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve Loulé, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.261-262

A Buraca da Moura

Dizem que existe um buraco entre a Foz e o Vale do Cobrão que atravessa a serra e que dá perto de uma pequena localidade de nome Chão das Servas, mas o túnel tem armadilhas pelo meio, pois tem um grande tesouro. A razão do nome, é que, dizem também que a certa hora do dia aparece uma Moura que penteia os seus cabelos com um pente de ouro.

Recolha efectuada em Foz do Cobrão Concelho de Vila Velha de Rodão por José Carlos Duarte Moura


Lenda da Bufareira

Entre o “Penedo Furado” e a “Bicha Pintada” existe uma gruta. Lá dentro um bezerro de ouro guarda uma linda Moura encantada.

Recolha efectuada em Vila de Rei por José Carlos Duarte Moura

O Pastor e a Moura

Nas Corgas havia um pastor que costumava ir com as cabras para uma serra. E um dia andava lá com as cabras e apareceu-lhe uma mulher, e disse para ele: “Você podia-me dar a sua corna com leite para os meus filhos?” O homenzinho pegou na corna e foi ordenhar a sua melhor cabra. Quando acabou de urdinhar a cabra, pegou na corna e deu-a à mulher, ela disse para ali aguardar um bocadinho, que ela já lhe vinha trazer a corna, e desapareceu pelo bale. Quando voltou entregou-lhe a corna, disse obrigado e foi-se embora. Quando o pastor olhou para a corna ficou todo chateado e disse: “Dei o leite, e agora aquela vaca traz-me a corna toda suja”. E vai lavar a corna a uma nascente que por ali havia. Mas primeiro despejou os carvões que tinha dentro, lá para trás de uma moita. Quando acabou de lavar a corna ela começou a brilhar muito, e ele viu logo que era ouro, foi a correr ver onde ele tinha entornado o resto, para apanhar, mas tinha desaparecido. Dizem que eram os mouros, que aqui andavam e quando pediam alguma coisa a alguém agradeciam com ouro.

Recolha efectuada nas Corgas – Concelho de Proença-a-Nova por José Carlos Duarte Moura

Lenda dos Mouros

Contam as pessoas mais idosas de Tinalhas, que num terreno chamado Chão da Capela (outrora pertencente ao Visconde de Tinalhas) havia uma mina – a dos Mouros. Nessa mina diziam que havia mesas, bancos, camas, tudo feito em pedra. Diz-se que aí viveram os Mouros durante muito tempo aquando da sua estadia cá.

Recolha efectuada em Tinalhas – Concelho de Castelo Branco por José Carlos Duarte Moura

A Lenda da Moura

Noutros tempos existia no Salgueiro do Campo uma barraca no sítio da Penha, que lhe chamavam a Casa da Moura. Esta, tinha dantes, à maneira de um altar que foi destruído por um pedreiro, que a utilizou na construção da sua casa na Rua da Serra. Embora a referida pedra da Casa da Moura não chegasse, fez no entanto parte da obra. No entanto, a lenda que ainda hoje é conhecida pelos Salgueirenses, conta que a referida Moura enterrou na Penha uma caldeira cheia de moedas de ouro. A caldeira, porém, nunca foi encontrada, pois segundo a mesma lenda a sua asa gastou-se devido ao constante passar dos rebanhos.

Recolha efectuada em Santo André das Tojeiras Concelho de Castelo Branco por José Carlos Duarte Moura

Lenda do Cabeço da Cantareira

Contam os antigos que no Cabeço da Cantareira existiam Mouros e Mouras encantados, e que viviam em profundas e longas cavernas. E as pessoas começavam a ver os Mouros quando para lá iam com os rebanhos de gado. Mas quando começaram a falar da existência desses Mouros nessas cavernas, havia pastores que deixaram de para lá ir porque tinham medo, apesar de dizerem que os Mouros tinham lindos rostos e não lhes faziam mal só faziam gestos da porta das cavernas. E se alguém para lá ia de manhã cedo encontrava sempre montes de carvão perto das cavernas. As pessoas nesse tempo para irem À missa tinham que lá passar perto porque só havia uma capela nas Sarzedas, em Santo André ainda não se dizia missa, e então as pessoas iam em grupos. Havia uma certa mulher chamada Joana que tinha uma filha chamada Felícia, que dizem ser essa menina muito bonita. Então a mãe todos os Domingos quando ia para a missa antes de passar o cabeço sujava a cara da menina com o medo que os Mouros lha roubassem. E dizia para a filha: – Anda para aqui Felícia que pode vir um Mouro encantado e roubar-te!As pessoas antigas sempre disseram que nessas cavernas existia riqueza. Conta a lenda que quando uma pessoa fazia uma casa ou outra coisa qualquer de valor que necessitava de dinheiro, e outra lhe perguntava onde é que arranjou dinheiro dizia: – Olha foi ao cabeço da cantareira! E ainda hoje pessoas que utilizam essa expressão. Há até quem sonhasse com arcas cheias de ouro!

Recolha efectuada em Santo André das Tojeiras Concelho de Castelo Branco por José Carlos Duarte Moura

Lenda da Moura da Maria Gadanha

Um dia muito belo apareceu a um senhor uma moça muito bela e que tinha cabelos de ouro. Essa pessoa que passava por ali ao nascer o sol viu a porta da caverna aberta e a tal dita moça dos cabelos de ouro. A bela moça estava a penteálos, e com os raios do sol o seu cabelo tinha um aspecto deslumbrante. Então volta-se o senhor e diz-lhe: – Que moça tão bela que tu és, quem me dera casar contigo! Nesse mesmo momento que o moço acaba de pronunciar esta frase e a linda moça de cabelos de ouro desaparece.

Recolha efectuada na Lardosa – Concelho de Castelo Branco por José Carlos Duarte Moura

A Fada do Cabeço de Carvão

Dizem alguns que se alguém desse sete voltas e meia ao Cabeço do Carvão, da meia-noite à uma hora da madrugada, sem olhar para trás, abrir-se-ia uma porta do Palácio Colossal, com divisões sem fim. E quem entrasse teria de levar um longo calabro a cingi-lo à cintura. Uma das pontas teria de ficar no exterior, porque se não fosse assim, como são muitas as divisões ninguém daria com a porta de saída e ficaria encantado no lugar da Moura. Está lá uma Moura elegante, graciosa, coberta de esmeraldas, safiras e rubis, que passeia com o visitante mas não lhe fornece informações para tudo o que viu. A Moura encantada presenteia sempre quem a visita. De uma vez disse a um ganhão, despedindo-se dele à porta: “Toma uma bolsa de passas de figo muito boas”. Quando a porta se fechou atrás de si ele disse: “Ainda bem que tenho ali na cabaça uma pinga de aguardente e se as passas prestaram, com este frio de Dezembro será muito bom.” Quando foi para comer as passas estas transformaram-se em moedas de ouro. Tentou outra vez e então reparou que quando ia para trincar as passas estas se transformaram em moedas de ouro. Pouco depois viu-se com um saco cheio de moedas de ouro. Regressou a Alcains e o ganhão que era pobre tornou-se rico.

Recolha efectuada em Alcains – Concelho de Castelo Branco por José Carlos Duarte Moura

Lenda da Moura Salúquia

Segundo a lenda, a princesa Salúquia, filha de Abu-Hassan e governadora da cidade de Moura, então chamada Al-Manijah, apaixonou-se por Bráfama, alcaide mouro de Aroche. Na véspera do matrimónio, Bráfama dirigiu-se com uma comitiva para Al-Manijah, a dez léguas de distância. Mas todo o território alentejano a norte e oeste tinha já sido conquistado pelos cristãos e a jornada revelava-se perigosa. Pedro Rodrigues, de conquistar a cidade de Moura. Estando ao corrente dos preparativos matrimoniais que aí se desenrolavam, os irmãos emboscaram-se num olival perto dos limites da povoação. Surpreendidos pela ação dos cavaleiros cristãos, a comitiva de Aroche foi facilmente derrotada Entretanto, D. Afonso Henriques encarregara dois fidalgos, os irmãos Álvaro Rodrigues e lmente vencida, e Bráfama foi morto. Disfarçando-se com as vestes dos representantes muçulmanos, os fidalgos cristãos dirigiram-se para a cidade. Salúquia estava no alto da torre do castelo, onde aguardava a chegada do seu noivo. Vendo aproximar-se um grupo de cavaleiros aparentemente islâmicos, a princesa julgou que se tratava da comitiva de Aroche, ao que ordenou que lhes franqueassem as portas da fortificação. Mas mal transpuseram a muralha, os cristãos lançaram-se sobre os defensores da cidade, tomados de surpresa, e conquistaram o castelo. Salúquia apercebeu-se então do erro que tinha cometido e, ferida pela certeza da morte de Bráfama, tomou as chaves da cidade e precipitou-se da torre onde se encontrava. Comovidos pela história de amor que os sobreviventes islâmicos lhes contaram, os irmãos Rodrigues teriam renomeado a cidade para Terra da Moura Salúquia. O tempo encarregar-se-ia de transformar esta designação para Terra da Moura, até que evoluiu para a actual forma de Moura. A uma torre de taipa do Castelo de Moura ainda hoje se chama a Torre de Salúquia, e a um olival nas proximidades de Moura, aquele onde supostamente teriam sido emboscados Bráfama e a sua comitiva, o povo chama Bráfama de Aroche. Nas armas da cidade figura, uma moura morta no chão, com uma torre em segundo plano, numa alusão à lenda da Moura Salúquia.

Wikipédia

A cabrita com olhos de gente

Conta-se que, desviado da aldeia de Cabriz, já perto do rio Távora e dos castelos que se avistam lá, uma vez um pastor viu uma cabrita a olhar muito para ele. E que aqueles olhos pareciam mesmo olhos de gente. Ora, como a cabrita não fazia parte do seu rebanho e ele não sabia como tinha ido ali parar, pegou numa pedra e atirou-lha. E que aconteceu então? Aconteceu que, conforme lhe acertou com a pedra… a cabrita desapareceu. Não a viu mais. Dizem que, ao acertar-lhe com a pedra, foi o encanto de uma moura que se desfez. É por coisas destas que o povo costuma acreditar que ainda anda por ali a alma da moura Ardínia.

PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro – Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , in Arquivo Português de Lendas

A fonte da moira

Há muitos, muitos anos, indo um mancebo abrir a presa da fonte da moira, na encosta da Citânia, encontrou uma linda moira a lavar enxadas, correntes, engaços, que de amarelinhos mais pareciam de oiro. Quando o moço, algo admirado, sé preparava para esvaziar a presa; a jovem pediu-lhe por boas palavras que esperasse uns momentos para acabar aquela cuidadosa ou estranha limpeza das alfaias que tinha à sua volta. Porque julgasse que a sua alminha iria penar, se acaso acedesse ao pedido, o rapaz, mais amarelo do que um rolo, deixou a presa aberta e foi-se lesto embora, sempre a olhar para trás, que aquilo estava visto: só obra do demónio! Como era de supôr, a lavadeira não ficou contente, e, entre as suas palavras de maldição, prometeu que nunca mais ninguém chegaria a regar com água daquela fonte…
O castigo não tardou… Dias depois, o rapaz voltou de novo à presa, abriu o buraco, rego além, até aos lameiros de Bouça-monte, à espera da água que soltara. Mas a vingança da moira… Lá na funda, o mocetão esperou, esperou muito tempo, mas água… de grilo! Desesperou-se. Resolveu então voltar à presa e, à medida que ia seguindo o rego, mais se admirava por ver que este estava simplesmente orvalhado. Porém, o seu espanto foi maior ao reparar que a presa tinha pouca água e a ainda escorria logo ali perto se escapava por uma fisga do lajedo!… Sem saber o que fazer, o moço camponês olhou em redor, falou sózinho e repetiu muito devagar algumas das palavras da moira — … nunca mais ninguém regará com esta água… nem uma erva… É curioso que ainda hoje, como naqueles tempos, a água da fonte da moira não tem aproveitadoiro… pois desaparece a poucos passos da nascente.

AA. VV., – Douro Litoral, 5ª Série, IX n/a, s/ed., 1953 , p.65-66, in Arquivo Português de Lendas

A Fonte da Moira

Em Vista Alegre, a meio caminho do rio, para o lado da Gafanha, fica a Fonte da Moira, cuja lenda é a seguinte: A laje, onde a bica está encravada, ocupa uma superfície aproximadamente a quatro metros, toda ela cobertas de inscrições latinas gravadas. Pois, o povo, quando alguém indaga sobre a fonte, diz que esses dizeres goram ali gravados há muitos e muitos anos — ainda no tempo dos moiros — e contam a história do homem que se servia daquela água. Ele vinha de longe. Enchia os odres e lá os ia rolando até à sua casa. Mas, um dia, encontrou a fonte seca. Para a consertar, o homem foi tirando pedras, até que deslocou uma maior, deixando à vista um túnel. Curioso, meteu-se nele, mas não tornou a sair. E a água correu de novo na bica. Daí por diante, muita gente viu, em noites de lua cheia ou ao pôr do Sol, um homem decapitado com a cabeça assente nos joelhos. — Foi a moira que o matou, porque ele lhe quis roubar os tesouros — diz ainda o povo da Carvalheira. E fecharam, por isso, o túnel com aquela larga pedra; e, desde então, a fonte ficou a ser chamada Fonte da Moira.

SOUSA, Arlindo de Origens Históricas e Filológicas de Expressão Popular, de Algumas Povoações e Locais. Lisboa, Revista de Portugal, 1961 , p.481, in Arquivo Português de Lendas

A Fonte da Moura

Da lendária ocupação árabe apenas ficou a lenda da “Fonte da Moura”. Situada numa propriedade particular, a referida fonte é uma nascente de água, ligada ao chamado rio da Loureira. Segundo a lenda, uma Moura ia ali buscar água arranjando pretexto para se encontrar com o namorado e terá ficado ali “encantada” vendo a água correr e certamente a pensar nas delícias do futuro, quando o povo a que pertencia foi atacado e tudo foi desfeito.

Arquivo Português de Lendas

A lenda da Fraga da Moura

Dizem os antigos que, nos princípios do mundo passou por aqui uma moura que fez a casa dela no meio de umas fragas. Lá teve os filhos e tinha gravado nas pedras os berços dos meninos. Contam também que, era costume a moura levar grandes pedras cabeça e os filhos nos braços e que também fiava. Isto tudo, ao mesmo tempo. Está o fragão do Penedo Redondo no Caminho de Escapa e dizem que foi a moura que o trouxe para lá. Contam ainda que ela punha o ouro ao sol por cima das pedras. A moura era metade mulher, da cinta para cima e metade cabra, da cinta para baixo. No local da Fraga da Moura, vê-se lá os berços escavados nas rochas, um penedo redondo que era o tambor e as copeirinhas, onde ela punha as maçarocas que fiava. Há lá também um buraco no meio das rochas, mas ninguém sabe o que lá está.

AA. VV., – Baú de Memórias S. Pedro do Sul, Projecto Escolas Rurais, 1999 , p.45, in Arquivo Português de Lendas

A lenda da fraga do Poio

A certa distância da aldeia de Brunhoso, concelho de Mogadouro, no caminho do Poio, existe uma grande fraga redonda, com uma grande rachadela, e que é chamada a Fraga da Tecedeira, embora também seja conhecida como a Fraga do Poio. Contam os mais velhos que, em tempos antigos, houve por aquelas bandas uma luta com os mouros, onde foi raptado um príncipe cristão que tinha amores com uma bela princesa moura.
Passado algum tempo, quando os mouros já se tinham ido destas paragens, apareceu ali a jovem, cheia de desgosto, e refugiou-se na dita fraga, na esperança de o príncipe um dia voltar. Esperou semanas, meses e anos. E depois de tanto esperar, resolveu pedir à senhora Miquelina, que ali passava todos os dias, a ver se lhe arranjava um tear para ocupar o tempo.
A senhora Miquelina, como era a tecedeira mais importante da região, arranjou-lhe então um tear. E dizem que ao passar-lho para as mãos, este transformou-se num tear de ouro. O príncipe nunca mais apareceu, mas ela continuou lá a viver e a tecer no seu tear. Diz-se que ainda hoje espera a chegada do príncipe. E a fraga passou a ser conhecida como a Fraga da Tecedeira.
Na aldeia cumpre-se hoje a tradição de as pessoas mais velhas chamarem as mais novas e perguntarem:
— Quereis ouvir uma princesa a tecer?
As crianças encostam a cabeça e a pessoa mais velha dá-lhe com ela na fraga. Elas ficam então com um zunzum na cabeça, e perguntam-lhes:
— Então, ouvistes?
As crianças dizem que sim. Mas, quer tenham ouvido ou não, aprendem pelo menos que nem em todas as fantasias se pode acreditar. E amanhã, serão elas a transmitir essa mesma lição a outros.

PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.289 , in Arquivo Português de Lendas

A Lenda da Moura Floripes

As pessoas diziam que aparecia uma senhora, toda vestida de branco com os seus cabelos loiros compridos, numas ruas muito estreitinhas da cidade de Olhão. Quem a via eram os pescadores que, de madrugada, saíam para ir para o mar trabalhar. Existem vários relatos de pescadores que a viam, mas nunca chegavam a falar com ela, porque a receavam. Conta a lenda que, houve um pescador que chegou a falar com ela a perguntar-lhe o que lhe tinha acontecido e o porquê daquelas aparições. Ela respondeu que tinha sido encantada pelo pai, que era mouro. Quando os mouros tiveram que fugir do Algarve, encantaram as suas filhas antes de se irem embora. A moura revelou que só havia um modo de alguém a desencantar: alguém tinha que ir com ela a um sítio de barco para o qual ela ia orientando e a pessoa tinha que levar duas velas acesas até lá chegar. Se chegasse ao local esperado com as velas acesas, a moura perdia o encanto e a pessoa ganharia uma fortuna; se não chegasse ao local esperado ou chegasse com as velas apagadas, o barco se afundaria, a pessoa morreria afogada e o encantamento da moura continuaria.
O pescador, depois de ouvir aquilo, foi-se embora e não aceitou aquela tarefa.
Não houve nenhum pescador que quisesse correr tais riscos, por isso a moura continuava encantada. A pobre moura continuou a aparecer durante muito tempo naquelas ruas muito estreitas. Conta a lenda, que nunca chegou a perder o encanto.

AA. VV., – Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a, in Arquivo Português de Lendas

A lenda do castelo do giraldo

As pessoas ouviram dizer que estava além no castelo uma moura encantada. Então iam lá mas só ouviam bater, bater, bater nas pedras mas não viam mais nada. Era só isto. Então depois disseram assim:
– Mas o que será isto que a gente só ouve e não vê nada? Mas o que será isto?
E foram andando, andando, andando e aquilo desaparecia. Desaparecia era que nem uma bruxa.
Uma vez prepararam-se uma data de pessoas para irem ouvir aquelas pancadas.. mas nada! Foi quando ouviram um galo a cantar que dizia assim:
– Às tantas da noite vêm aqui para tirarem esta moura encantada antes de eu comer um alqueire de trigo. Se não conseguirem, ficam cá encantados.

AA. VV., – Lendas e Tradições Évora, EBM’s de Guadalupe, S. Sebastião da Giesteira e Valverde, 1999 , p.40, in Arquivo Português de Lendas

A Moura de Monte Gordo

Em Monte Gordo existe uma escadaria altíssima, e que no cimo dessa escadaria existe um Barril, e que dentro de esse baril está uma Moura encantada, está a moura, depois muito muitas, muitas, moedas e depois um bicho lá dentro, tipo um búfalo. E que essa Moura para se ficar desencantada, teria de ser com três palavras mágicas, e a pessoa ou dizer essas três palavras mágicas, teria de conseguir descer a escadaria toda até cá baixo e sem que o Búfalo o apanhasse, e por aquilo que eu ouvi dizer até hoje, porque a minha família é toda daquela zona, já houve duas pessoas que fizeram essa tentativa, mas infelizmente não conseguiram descer essa escadaria, porque o búfalo conseguiu cercá-las, e até hoje a moura encantada lá está.

AA. VV., – Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a, in Arquivo Português de Lendas

A Moura de Torrozelo

Na Fonte dos Moiros — sempre o ouvimos desde pequerruchos — vive uma moirinha jovem e formosa, com umas grandes arrecadas de ouro em forma de pirâmide a penderem-lhe das orelhas aveludadas, entre ondeantes e fartas madeixas, com uns olhos de um negro-azeviche a faiscarem-lhe do rosto bronzeado e uns lábios a palpitarem-lhe de sensualismo, que só a desoras, da meia-noite para a uma (não se sabe porquê), aparece ante uma riquíssima dobadoura, fazendo girar o fuso de marfim amarelado em voos delicados, quase subtis, a ver se alguém cai em lhe dar um fio do fato ou um cabelo desgarrado, para se safar cá para fora e deixar outrem na encravação.
A mourinha está sempre moça fresca, e vem a ser por isso que a água da «Fonte dos Mouros» é a mais fria da terra…

VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II Coimbra, por ordem da universidade, 1966 , p.795-796, in Arquivo Português de Lendas

A moura encantada

Em Belver, junto ao castelo, existe um poço muito fundo chamado o poço das três pombas. Esse poço tem uma moura encantada e, para lhe quebrar o encanto, é preciso alguém ir de noite ao local, vestido de branco e sem nunca poder olhar para trás, mesmo que ouça ruídos de pessoas ou de animais. Conseguindo tal proeza a pessoa deve olhar para o fundo do poço pra poder, então, quebrar esse encanto.
Como ainda ninguém conseguiu fazer tal coisa, porque todos receiam que aconteça alguma coisa de mal, a moura ainda continua encantada no fundo do poço.

GRAÇA, Natália Maria Lopes Nunes da Formas do Sagrado e do Profano na Tradição Popular Lisboa, Colibri, 2000 , p.194, in Arquivo Português de Lendas

A moura, metade homem e metade cabra

No vale de Sio, termo de Parada de Infanções [concelho de Bragança], saiu uma moura encantada, metade homem e metade cabra, a um tal António Alves, dizendo-lhe:
— Anda cá, António Alves, que levarás para ti, filhos, netos e tetranetos.
Mas o homem assustou-se, fugiu e o encanto sumiu-se.

PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.211, in Arquivo Português de Lendas

A moura no rio Mente

Na Forjinha, termo de Vilar Seco da Lomba [concelho de Vinhais], há numa fraga um buraco com escada cavada na rocha, onde, segundo a lenda, entrou um cão e foi sair à margem do rio Mente, alguns quilómetros distante. (…) Também aparecia uma moura às pastoras, com vestidos brilhantes, dizendo-lhes:
— Trocai a vossa pobreza pela minha riqueza.
Outras vezes via-se a lavar roupa no rio Mente.

PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.375, in Arquivo Português de Lendas

As mouras encantadas do castelo de Lamego

Um rei mouro, muito antigo, levado por poderosa fada feiticeira, mandou abrir, secretamente, no bairro do castelo, três túneis para uma sala, cada qual com a sua porta fechada. Mais, fez afixar uma legenda à entrada destas portas. Numa estava escrito: “peste que pode matar gente até uma légua em volta”; noutra: “tesouro de grande riqueza”; e numa terceira: “encantamento”. Mas, ficou também ali uma advertência: cuidado, que estão as legendas trocadas. Este senhor do castelo, um dia, receando ser morto pelo nosso Rei D. Afonso Henriques, resolveu fugir, sem ver modo de levar consigo as suas três filhas “formosíssimas e jovens”. Assim, pediu a uma fada feiticeira que o acompanhava, que as encantasse. Tomaram as três lindas mouras o bálsamo do encantamento, que lhes permitia “duração eterna”, ficando guardadas “no dito subterrâneo aonde existem”…Também foi encerrado, noutro túnel, o tesouro real. E lá se foi o rei mouro para os Algarves. Pensava voltar um dia, com a fada que lhe desencantaria as filhas, e haveria igualmente o tesouro escondido. Faleceu em Tavira. A fada que o acompanhou, também. Continuam no bairro do castelo as três princesas mouras… Quem as procura receia abrir por engano o túnel da peste, e todos têm desistido.

Ferreira, Manuel dos Santos da Cerveira Pinto – O Douro no Garb Al-Ândalus: a Região de Lamego durante a Presença Árabe. Dissertação de mestrado em Património e Turismo. Universidade do Minho, 2004, pp. 80-81. http://hdl.handle.net/1822/3001

A Lenda de Ardinga

Em Lamego, a violenta morte da Princesa Ardinga, filha de um rei mouro daquela cidade, ao tempo que nela, e na maior parte de Espanha dominavam os (…) Ismaelitas. Esta levada da fama das grandes façanhas do ilustre capitão Tedon, bisneto do rei D. Ramiro II de Leão, que o mundo apregoava, e vencida do amor, e casta afeição de o alcançar por consorte, disfarçada ausentou-se do palácio de seu pai, em companhia de uma sua colaça, e havendo caminhado alguns dias, fugindo das estradas, veio ter ao mosteiro de S. Pedro das Águias da Ordem de São Bento na comarca da Beira, de que era abade Gelásio, monge de muito santa vida, o qual alcançando nas primeiras palavras, que com ela falou, quem era e o fim da sua vinda, lhe persuadiu, que se o queria ter por bom terceiro em sua pretensão, havia primeiro que seguir a fé de Cristo, o que ela de boa vontade aceitou, e instruída na doutrina e Sagrados mistérios, recebeu a água do Santo Baptismo. O que sabendo seu pai, veio dissimuladamente em sua busca e com infernal furor (não se fiando de outrem) ele próprio por suas mãos afogou, em ódio de nossa sagrada religião, que havia professado: pelo que piamente cremos goza na glória esta purpúrea rosa (nascida entre os espinhos da seita maometana) da ilustre coroa de mártir.

A região de Lamego durante o domínio Árabe

A lenda do Ladoeiro do Castelo de Lamego

Segundo a tradição, os mouros teriam plantado, junto ao castelo, a árvore africana do ladoeiro, perpetuada nas armas da cidade, cujos frutos fazem esquecer a pátria e assim por cá ficariam para sempre. Só que, fora de África, o ladoeiro não dá frutos.

A região de Lamego durante o domínio Árabe

Lenda do Mourinho Encantado

Reza a lenda, que um marítimo, ao ir buscar a sua barca que se encontrava junto à Porta Nova, teve de passar pelo arco do Repouso. Ao passar junto à capela da Senhora do Repouso avistou um mourinho, que o chamou. Assustado o marítimo perguntou-lhe o que queria dele. O mourinho convidou-o então, a visitar o seu palácio, cuja porta se situava debaixo do altar da Senhora do Repouso. O marítimo assustado fugiu daquele local e quando chegou à Porta Nova, desmaiou. Segundo esta lenda, há quem diga que os mais corajosos aceitavam o convite do mourinho, e que ao chegar ao palácio, verificavam que dentro dele tudo era de ouro. A estes, o mourinho oferecia todo o ouro que quisessem levar. Apesar da sua generosidade, cada pessoa que aceitava o convite do mourinho, só tinha direito a visitar o palácio uma única vez.

Mitos, Crenças e Superstições no Concelho de Faro

Bibliografia:

ARQUIVO PORTUGUÊS DE LENDAS, http://www.lendarium.org/

CASINHA NOVA, Maria Manuela Neves. “As Lendas do Sobrenatural da Região do Algarve”. Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de Literatura, 2012

FERREIRA, Manuel dos Santos da Cerveira Pinto. “O Douro no Garb Al-Andalus: A Região de Lamego Durante a Presença Árabe”. Dissertação de Mestrado em Património e Turismo. 2004

MOURA, José Carlos Duarte. “Contos Mitos e Lendas da Beira”. ASSOCIAÇÃO CULTURAL OUTREM – ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO AMBIENTE E PATRIMÓNIO. Coimbra, 1993

PAULA, Elisângela Aparecida Zaboroski. “Mouras Encantadas: Um Panorama das Lendas Ibéricas à Teiniaguá Simoniana”. Revista Litteris nº 8, Setembro 2011

ZACARIAS, Fernanda. “Mitos, Crenças e Superstições no Concelho de Faro”. Câmara Municipal de Faro, 2011

 _______________________________

 FONTE: Histórias de Portugal e Marrocos, Frederico Mendes Paula

 https://historiasdeportugalemarrocos.com/mouros-e-mouras-encantadas/?fbclid=IwAR2-ud9wE51Nat7YIWht4vgtw57SQ3c847a__t7DbvXJGJZ_zTBW4GJKdVU

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A vida incrível do pai de António e Ricardo Costa (ou Babush e Babuló)

Da origem árabe dos Senhores da Maia

Quinta do Relógio: um passeio pelo romântico e o oriental