Teste genético: sou judeu e não sabia


 

Há alguns anos, quase que por brincadeira, mandei vir um daqueles “kits” da companhia MyHeritage (https://www.myheritage.com.pt/) para conhecer a minha história genética, e descobri que, afinal, eu, que descendo de indianos, tenho uma coisa em comum com os portugueses de origem europeia: genes judeus! Ainda mais, genes judeus Ashkenazi, gente da Europa de Leste, nada a ver com sefarditas ou judeus radicados há milénios na Índia. Tenho outros genes em comum com os portugueses, também, mas não os genes berberes e africanos. Fora os genes Ashkenazi, nada mais no relatório que recebi por e-mail me surpreendeu. Alguém nos Estados Unidos, pegando num cotonete com a minha saliva, traçou a minha herança genética e a história dos meus antepassados sem alguma me vez me ter visto ou saber nada sobre mim. E tudo batia certo com o que fui pesquisando ao longo dos anos.

Por exemplo, quase 10 por cento dos meus genes são da etnia classificada como Irlandesa/Escocesa/Galesa, ou Celta, o que não me espantou por aí além. Há uma antiga ligação das tribos de indo-europeus que se radicaram na Índia há milénios, e criaram a civilização Védica, Hindu, aos povos da Europa ocidental. Num passado remoto, todos eles eram eram seguramente de um mesmo povo, com a mesma religião, que se espalhou pelo mundo a partir de algum ponto da Eurásia, e os vestígios linguísticos dessa ligação são ainda hoje bem visíveis. Uns 17 por cento dos meus genes são da etnia classificada de Asiática Ocidental, comum na Turquia e no Irão, o que também bate certo com a história das migrações e invasões do Norte da Índia (o Gujarate) de onde a minha família é oriunda, embora eu não me ache nada parecido fisicamente com nenhum destes povos que estou a mencionar. Tenho 3 por cento de genes ditos da Ásia Central, que são predominantes em toda a Ásia para lá da Índia e, se calhar, isso explica os olhos achinesados de alguns familiares. Isto sempre nos intrigou, não percebíamos como era possível. De resto, sou quase 80 por cento indostânico - um caucasóide indo-ariano, com pinceladas de dravídico e sino-tibetano, segundo o My Heritage. Não tenho origens árabes nem africanas recentes.

A receita genética que cozinhou o português europeu parece bastante diferente da minha, segundo esta reportagem da Ana Gershenfeld, há uns anos, no jornal “Público”. Escreve ela: “Receita genética para cozinhar um português moderno: aquecer em lume brando um "caldo" de ADN de celtas, iberos e lusitanos do início da era cristã, acrescentando umas pitadas de genes judeus vindos do Médio Oriente durante o Império Romano. De vez em quando, deitar no tacho alguns genes berberes. Esperar 700 anos e, em seguida, misturar uns punhados de genes de invasores árabes durante cinco séculos. Já no século XIII aumentar bastante o lume e reduzir a introdução de genes árabes (sem esquecer de continuar a polvilhar a mistura com mais genes judeus). A partir de meados do século XV, baixar o lume e ir deitando no caldo umas colheres de genes de escravos subsarianos. No início do século XVI, aumentar novamente o lume da Inquisição durante dois séculos, continuando a acrescentar genes africanos até ao fim do século XIX - e sem nunca esquecer de temperar periodicamente com mais alguns genes judeus (agora chamados "sefarditas"). Em traços largos, esta é a receita de fabrico do ADN dos portugueses de hoje à luz dos mais recentes resultados da genética das populações.” (ver https://www.publico.pt/2011/04/22/jornal/a-historia-de-portugal-contada--pelos-nossos-genes-21878549)

Como foram entrar judeus Ashkenazi nas minhas veias - e estamos falar de uma comunidade sem ligações históricas à Índia - é algo que ainda estou para descobrir. Em Israel, os testes genéticos como o que fiz parecem estar proibidos, segundo vejo em alguns vídeos no YouTube (como o que esta página refere, aqui: https://www.monitordooriente.com/20240111-a-guerra-genetica-de-israel-testes-proibidos/) Há gente que está a descobrir, quando faz estes testes, que não tem vestígio algum de genes judeus que possam ser traçados ao Levante ou ao Médio Oriente. Noutra página (https://www.szajnbrum.com/pt-br/direito-de-familia/dna-duvida-e-imigracao/), noto que, ainda em 2020, o Estado Judaico exigia esse teste a brasileiros que não pudessem provar, de forma convincente, que são de facto, descendentes de judeus, e assim merecedores de gozar de todos os privilégios da "Lei de Retorno" - um passaporte israelita e o direito de viver em qualquer lugar do país, como cidadãos plenos - inclusivamente na Cisjordânia Ocupada, algo negado aos Palestinianos que ali vivem há séculos ou milénios, e cujos genes estão polvilhados de herança Levantina. Tenho estado a pensar se os 2% de judeu deste teste me dariam o direito de gozar dessa lei "racialista"

Em última análise, claro, somos todos mutações genéticas de negros africanos que espalharam a nossa espécie, o Homo Sapiens, pelo mundo. 

Resultados:

72, 4 % Sul-asiático

16,8 % Asiático Ocidental

6,5 % Irlandês/Escocês/Galês

2,3 % Ásia Central

2 % Judeu Ashkenazi

(Texto adaptado de um outro que publiquei na página em 2018) 



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