Os jacarandás de Lisboa (e outras árvores exóticas)
Todos os anos, há quem faça disto um ritual – descobrir o primeiro
Jacarandá a florir em Lisboa. O nome indígena tupí-guaraní revela a origem exótica
desta árvore da América do Sul. É uma árvore de pequeno porte,
alcançando cerca 15 m de altura. O caule é um pouco retorcido e a copa é
arredondada e irregular, arejada e rala, perdendo a folhagem no
inverno. Os seus frutos são verdadeiras cápsulas de madeira, com formato
semelhante a conchas que, quando maduras, libertam centenas de sementes
aéreas. Floresce em Maio e Junho, embora possa fazê-lo de forma
extemporânea fora destes limites, apresentando flores perfumadas e
grandes, de coloração azul ou arroxeada, em forma de trompete. É muito
utilizada na ornamentação de ruas, praças e parques, uma vez que as suas
raízes aprumadas e profundas não danificam a calçada. Foi uma das
espécies introduzidas por Félix de Avelar Brotero, enquanto director do
Jardim Botânico da Ajuda (1811-1828). Depois de aclimatizado, o
jacarandá (nome científico Jacaranda mimosifolia) foi plantado
por toda a cidade. Pode apreciar-se no Campo Pequeno, no Parque Eduardo
VII, no Largo do Carmo ou na Av. D. Carlos I. No final da Primavera,
origina uma explosão violeta que parece alastrar-se pela cidade, adicionando “sabor tropical” a uma Lisboa entre o Mediterrâneo e o Atlântico…
Mas há outras árvores em Lisboa que, pelo seu porte ou pelo
colorido, merecem também a sua atenção. Tal como o jacarandá, os dois
exemplos seguintes são espécies exóticas sul-americanas, também elas
introduzidas por Avelar Brotero. A paineira branca (Chorisia speciosa)
pode ser vista junto ao Mosteiro dos Jerónimos, na Praça da Alegria ou
no Campo Mártires da Pátria. É uma árvore de grande porte, copa densa e
folhagem caduca, que pode atingir 30 metros de altura. As flores são
grandes e muito vistosas, de um tom rosa escuro mas com a base das
pétalas creme, ponteada de vermelho. Os frutos são grandes cápsulas
esverdeadas que encerram numerosas sementes envolvidas por filamentos
sedosos. No nosso País floresce no Outono-Inverno.
A tipuana (Tipuana tipu), com flores de um amarelo
alaranjado vivo, pode apreciar-se na Rua do Arsenal, na Avenida Elias
Garcia, no Saldanha, junto à Basílica da Estrela, no Cais do Sodré.
Duas outras espécies, com nomes bem portugueses e implantadas há
muito tempo no país, são também exóticas. O cedro do Buçaco, também
conhecido como cipreste-do-Buçaco ou cedro-de-Goa tem como nome
científico Cupressus lusitanica. Cupressus é o nome em latim para designar cipreste e lusitanica
significa procedente da Lusitânia (Portugal), apesar de ser uma espécie
originária da América Central. Esta árvore pode atingir 30 m de altura,
com copas abertas e ramos patentes. As folhas são escamiformes, agudas e
de um tom verde azulado e o tronco tem casca espessa,
castanha-avermelhada, fibrosa e estriada longitudinalmente. A espécie
foi descrita a partir de cedros procedentes de Portugal, onde se pensa
ter sido introduzido durante a época dos Descobrimentos por navegadores
portugueses, responsáveis também pela sua introdução em Goa. Pode
apreciar-se no Jardim do Príncipe Real.
Já o dragoeiro (Dracaena draco) tem a sua origem do seu
nome científico em Dracaena, que deriva do grego e refere-se ao dragão
ou serpente fêmea; e em draco, a designação latina para dragão. É
proveniente de Cabo Verde, Ilhas Canárias e Madeira, mas os exemplares
silvestres são muito raros. É cultivada em Portugal há centenas de anos.
Foi daqui que Lineu obteve informação que lhe permitiu descrever a nova
espécie, em meados do séc. XVIII.
Trata-se de uma planta lenhosa, arborescente, com um tronco direito
que se ramifica dicotomicamente, e folhas coriáceas, lineares,
pontiagudas, verde-azuladas, dispostas em espiral na parte apical dos
ramos. As flores são brancas, dispostas em cachos, e os frutos são bagas
vermelho-alaranjadas.
Era desta planta que se podia obter, antigamente, o chamado “sangue
de dragão”, uma resina vermelha que emanava das gretas do tronco e se
condensava em lágrimas. Era utilizada medicinalmente pelas suas
qualidades adstringentes e também pelos pintores para trabalhos
delicados.
Uma das primeiras descrições desta planta foi publicada por Clusius (Charles l’Ecluse) no seu livro Rariorum aliquot stirpium per Hispanias observatorum Historia
[Antwerpiae, Anvers, 1576], acompanhada de um desenho elucidativo,
baseado num exemplar que encontrou em Lisboa, em 1564, no Convento da
Graça. Pode apreciar-se ainda hoje, por exemplo, no Jardim da Fundação
Oriente ou na Rua do Salitre.
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