Cortei-lhe o pénis e depois libertei-o dos fundos, disse o “nazi”. O novo fascismo
Artigos originalmente publicados em Agosto e Setembro de 2017
O cabecilha dos “skinheads” que se apresentavam como “o braço armado do PNR”, Mário Machado, torturou uma das suas muitas vítimas mutilando-lhe o pénis com um serrote na banheira, queimando-o depois com cera de velas acesas, noticiava o “DN” em 2010, referindo-se à sentença que enviou a autoproclamado neonazi e a sua quadrilha para a cadeia (ver http://www.dn.pt/dossiers/sociedade/extrema-direita/noticias/interior/mario-machado-novamente-julgado-por-roubo-e-tortura-1500207.html).
O cabecilha dos “skinheads” que se apresentavam como “o braço armado do PNR”, Mário Machado, torturou uma das suas muitas vítimas mutilando-lhe o pénis com um serrote na banheira, queimando-o depois com cera de velas acesas, noticiava o “DN” em 2010, referindo-se à sentença que enviou a autoproclamado neonazi e a sua quadrilha para a cadeia (ver http://www.dn.pt/dossiers/sociedade/extrema-direita/noticias/interior/mario-machado-novamente-julgado-por-roubo-e-tortura-1500207.html).
Várias destas vítimas, que eram aliciadas a comprar droga pelo bando, foram baleadas ou espancadas, para além de serem ameaçadas de morte se testemunhassem contra os arguidos. Já da cadeia, o “nazi” continuava a ameaçar matar os filhos das vítimas, à sua frente se fosse preciso. Voltou a repetir a ameaça, desta vez contra um dos seus ex-comparsas que colaborou com o Ministério Público, a poucas semanas de ser libertado, no ano passado, e usou como “pombo correio” outro “skinhead”, condenado a pena de prisão suspensa por profanar campas do cemitério judaico de Lisboa, um tal de João Dourado.
“Considero-te a inimiga número 1, colaboradora do Ministério Público, fizeste-me uma emboscada”, escreveu numa “missiva” de oito páginas dirigida à companheira de um dos seus companheiros “skins”. “Vou sair em liberdade em breve e juro pelos meus filhos que és a pessoa que mais odeio e vão-te matar à frente dos teus filhos, juro pela minha saúde, sua informadora de merda se não entregares 30 mil euros ao João Dourado vais pelo cano”. Nas instruções que deu a partir da cadeia, haviam mais ”encomendas" para agredir pessoas, incluindo "tiros na pernas", até recomendações de mudanças de conteúdos que deviam ser publicadas na sua página de Facebook” informava o “DN”.
O “neonazi” está já fora da cadeia, mas continua activo no “movimento”, sendo apresentado como “líder” de um grupo chamado NOS - Nova Ordem Social (https://www.facebook.com/NOSnovaordemsocial/). No seu blogue, refere-se aos roubos que praticou como “libertação de fundos de criminosos”. “Eu e os meus amigos, de vez em quando, libertávamos fundos das mãos de criminosos, para os redistribuir por nós e pelas nossas famílias, ao estilo Robin Dos Bosques. E a espectacular Policia, defensora e protectora de traficantes de droga, resolveu oferecer protecção a essas "vitimas" e até os que não queriam apresentar queixa, foram de tal forma pressionados ("...ou entram eles ou entras tu.") que acabaram por nos entregar” (http://mario-machado.blogspot.pt/2017/07/as-offshores-da-familia-pinto-de-sousa.html).
Depois de vários anos na penumbra, este grupo e outros semelhantes voltaram a organizar-se recentemente, à boleia da crise dos refugiados e sentindo-se legitimados com o avanço da extrema-direita na Europa e a eleição de Trump (ver “O regresso dos skins”, Visão - http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-11-27-O-regresso-dos-skins). Não quer dizer que tenham estado parados. Entre 2013 e 2015 pelo menos vinte pessoas – entre negros, muçulmanos, homossexuais e comunistas – terão sido agredidas por elementos dos “Hammerskins”, o grupo antes liderado por Mário Machado. Em dois casos, a PJ e o Ministério Público encontraram indícios de tentativas de homicídio. Uma rusga policial a um armazém usado pelos “skins” como ponto de encontro, em Odivelas, descobriu caçadeiras e outras armas de fogo, munições, catanas, soqueiras, bastões, gás pimenta, “very lights”. Em finais do ano passado, a Polícia Judiciária deteve vários elementos deste grupo, onde se incluíam seguranças privados, um guarda-prisional, estudantes e desempregados. “A maior surpresa é que muitos são jovens sem antecedentes criminais. Em saídas noturnas, terão sido submetidos a ritos de iniciação: tinham de agir com violência contra as minorias para serem admitidos no movimento”, informa a Visão.
Foram criadas, recentemente, várias “organizações cívicas”, devidamente registadas, cujo único propósito parece ser a disseminação de propaganda xenófoba e instigação a actos de violência. Parecem estar muito activos nas redes sociais (Facebook, Twitter), mas começam já a organizar comícios e fazer propaganda na rua, colando cartazes e metendo brochuras nas caixas de correio. Frequentemente é utilizada a simbologia neonazi adoptada por movimentos supremacista brancos dos EUA (ver, por exemplo, https://www.facebook.com/movimentosocialnacionalista/ ou https://www.facebook.com/Portugueses-Primeiro-424949561046075/).
Apesar de a propaganda racista ou neonazi ser severamente punida pela legislação portuguesa, uma “editora” chamada “Contra a Corrente” (https://editoracontracorrente.wordpress.com/), criada por membros destes grupos, organiza regularmente “conferências” no Hotel Ibis Saldanha, com toda a naturalidade, para apresentar as preciosidades que publicam (ver https://www.facebook.com/portuguesemuslim/posts/269787633357284).
Numa delas, foi orador um tal de João Martins, figura frequentemente mencionada nos fóruns da extrema-direita, há alguns anos, como um dos envolvidos no assassinato do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro, em 1995 (http://observador.pt/especiais/alcindo-monteiro/). Para além do “Mein Kampf”, de Hitler (que esgotou rapidamente, contam-nos nas suas páginas), e de vária literatura apologista do nazismo e do racismo, encontramos títulos como “Fundamentos da biopolítica ou a importância do factor racial”, por um tal de Jacques Mahieu. Ali, podemos ler: ““As Nações brancas já não são obrigadas a defender-se, mas sim a recuar. Perderam quase todos os seus territórios coloniais. Um dia os brancos serão perseguidos no seu próprio solo por povos inferiores em qualidade mas superiores em número. Os europeus despertaram nos amarelos o seu sonho milenar; impediram os negros de se matarem uns aos outros e obrigaram-nos a produzir mais e mais alimentos. Levando a higiene e a medicina aos povos inferiores, multiplicaram os seus adversários de hoje e de amanhã e arruinaram assim o equilíbrio étnico do planeta.”
Noutro, “A lei do mais forte” (que dizem estar também esgotado), podemos ler coisas como “Abençoados os Fortes, pois eles possuirão a Terra – Amaldiçoados os Fracos, pois eles herdarão o jugo. Abençoados os Poderosos, pois eles serão reverenciados entre os homens – Amaldiçoados os Frágeis, pois eles serão caluniados. (https://editoracontracorrente.wordpress.com/page/2/). E porque também são “muito politicamente incorrectos”, os homossexuais também são ali honrados com um livro “polémico” de algum “Doutor Jokin de Irala”, que, avisam, é muito “oportuno, revelador e incómodo” (https://www.facebook.com/EditorialContraCorrente/).
O NOVO FASCISMO
Apologia ou promoção de literatura neonazi não é certamente o objectivo da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, sedeada no Palácio da Independência, na baixa de Lisboa (http://ship-sociedadehistorica.blogspot.pt/). Ou é? Apresenta-se como uma uma “associação de utilidade pública vocacionada para a valorização e para a divulgação dos valores nacionais, muito particularmente na área da Língua e da Cultura Portuguesas e Lusófonas, através de iniciativas como sessões comemorativas das grandes datas nacionais, cursos, exposições, palestras, concertos, concursos, seminários, viagens de estudo, etc.”
Amanhã é ali apresentado um livro de uma editora de nome “Contra Corrente”, titulado “Quem Vive? Portugal! Portugal! Portugal!”, que reúne ensaios compilados por um tal de João Martins, um dos indivíduos envolvidos no assassinato do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro, em 1995 (http://observador.pt/especiais/alcindo-monteiro/), e que parece ser alguma figura destacada na “extrema-direita”. Na Internet, onde administra páginas contra refugiados, muçulmanos, minorias étnicas, etc (https://www.facebook.com/Associa%C3%A7%C3%A3o-Portugueses-Primeiro-1721278528178794/), apela aos jovens para que compareçam: Diz ele:
“A apresentação será realizada por mim próprio e pelo nosso Camarada Luís Fernandes, o qual, por todo o seu longo percurso de militância (OAS, Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, Operações especiais no Ultramar, organizações nacionalistas), será devidamente homenageado nesse dia. E é por isso mesmo que importa que todos quantos possam, ou estejam interessados, apareçam no Palácio da Independência, sede da SHIP, pelas 16h. O meu apelo à comparência dirige-se em especial ao jovens, como forma de demonstrar ao nosso ínclito Luís Fernandes que o facho está entregue e terá continuidade, que a sua luta, esforço e sacrifício, não foram em vão.”
Entre as obras editadas por esta “Contra Corrente” está, como não podia deixar de ser, o “Mein Kampf” de Hitler, “um dos livros mais marcantes da história da humanidade”, asseguram, afectuosamente. Há diversa outra literatura que esta gente promove, como o libelo anti-semita “Os Protocolos dos Sábios de Sião” (que esgotou rapidamente, garantem na sua página, https://www.facebook.com/EditorialContraCorrente/). Outro grande “sucesso” da editora chama-se “Raça, Evolução e Comportamento”, que “descreve centenas de estudos efectuados em todo o mundo e que mostram um padrão consistente de diferenças raciais humanas em características como inteligência, dimensão do cérebro, tamanho dos órgãos genitais, intensidade do impulso sexual, potência reprodutiva, espírito empreendedor, sociabilidade e predisposição para respeitar leis. Em cada uma destas variáveis, os grupos estão alinhados da seguinte forma: Orientais, Caucasianos, Negros”. A promoção do racismo é, assim, um negócio.
Pelo que se percebe da página, organizam conferências em hotéis e vendem este tipo de literatura por aí na maior das calmas, o que, como sabemos, é punível na legislação portuguesa.
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