Karachi Khatak Dancers


Sheema Kermani, de 67 anos, é uma conhecida activista pelos direitos das mulheres no Paquistão. Actriz, encenadora, coreógrafa, formada em dança clássica indiana, acredita no poder terapeutico da arte para curar uma sociedade doente - doente de misoginia, de fanatismo religioso, de violência comunitarista, que estigmatizou, nas últimas décadas, e desde a ditadura militar de Zia-ul-Haq, a música, o teatro, as artes performativas e as apodou “anti-islâmicas”. E, claro, restringiu a liberdade das mulheres. “Nada no Alcorão proíbe que dancemos”, conta. “E a arte implica liberdade de pensamento e de expressão. Mas se eu digo isto, ou se alguém questiona alguma coisa aqui, somos imediatamente considerados blasfemos. E se somos blasfemos, então podemos ser mortos na maior das calmas”. As ameaças de morte que recebe diariamente nunca a detiveram. Quando um bombista suicida matou 88 pessoas no santuário Sufi de Lal Shabaz Qalandar, em Fevereiro de 2017, Sheema foi até lá e dançou o Dhamall, uma dança tradicional alegre, que celebra o amor e a concórdia. Nesta reportagem da Al Jazeera, ela passeia pela Carachi que ama, que foi em tempos lar de muitas confissões religiosas, de Hindus, Cristãos, Parsis. O seu velho templo hindu precisa agora de segurança 24 horas por dia para evitar ataques terroristas. É hoje uma sociedade conservadora, ultrapatriarcal, acossada pelo terrorismo fundamentalista. Kermani criou uma academia de dança Khatak, forma de dança clássica do sul da Índia, onde a procuram muitas mulheres às escondidas das suas famílias. “Quando elas aqui chegam estão encurvadas, não sabem andar direitas, de tanto lhes meterem na cabeça que não devem mostrar o seu corpo, que isso é pecado”, explica. Mas como em tudo que é “proibido” - a música, a dança, o convívio entre os sexos em público -, “nós paquistaneses arranjamos sempre uma forma da dar a volta a essas restrições”. Mesmo com as ameaças, continua a fazer peças de teatro, de dança, sempre procurando a aprovação prévia das autoridades, como fazem outros activistas no país. E é uma activista empenhada na protecção dos direitos das mulheres, na promoção do seu acesso aos cuidados básicos de saúde, da sua autonomia. “É isto o meu activismo, quero fazer com que as pessoas pensem por si próprias, que se questionem sobre a vida”. [Entrevista com "The Hindu" (Índia): https://www.thehindu.com/features/friday-review/dance/the-unofficial-dancer/article6129963.ece / Link para Al Jazeera: https://www.aljazeera.com/indepth/features/karachi-kathak-dancers-180613090306909.html]

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