Nunca me senti tão português

Na noite passada tive uma abençoada oportunidade de visitar as celebrações do Jubileu de Aga Khan, graças à iniciativa dos meus amigos Faranaz Keshavjee e Faisal Devji. Em dado momento ao longo da noite dei com um dos salões onde músicos ismaelitas portugueses entretinham as multidões. Ouvindo aquela música, percebi o quanto, como goês, partilho com os ismaelitas portugueses. Canções de África (Malaika), canções do subcontinente indiano, e o nosso amor por Portugal e pelos portugueses. Isto foi, e ainda é, o nosso império. Nem todos ali éramos “brancos”, nem todos católicos, mas não havia dúvida sobre o que tínhamos em comum, e isso era Portugal. Nunca me senti tão português como naquele momento (OK, exagero um pouco), e ao mesmo tempo completamente sul-asiático. Estou tão contente que a sede do Imamato ismaelita seja agora em Lisboa, o que demonstra toda a complexidade portuguesa de que a Faranaz fala nesta entrevista invulgar [“Pluralismo é um desafio também para os ismaelitas” - http://rr.sapo.pt/noticia/118464/pluralismo-e-um-desafio-tambem-para-os-ismaelis]. Essa complexidade não vem apenas dos valores seculares e liberais da República, mas de uma tradição muito mais longa - que por vezes foi má, outra vezes foi boa, mas que é inteiramente nossa.

Jason Keith Fernandes é um antropólogo goês, actualmente a residir em Portugal https://www.facebook.com/itinerantmendicant

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