Leyla Mammadbeyova (1909-1989), a "Senhora dos Céus"

Nascida no Azerbaijão, onde a chamavam de “Senhora dos Céus”,  Leyla Alasgar qizi Mammadbeyova (1909-1989) foi a primeira mulher piloto do Cáucaso, sul da Europa e Médio Oriente, e a segunda mulher a saltar de pára-quedas na União Soviética. Foi também instrutora de voo e treinou muitos outros pilotos. Nasceu em Nadaran, uma vila costeira na Península Abşeron, que é agora um subúrbio de Baku, capital do Azerbaijão. Era filha única e, após a morte da mãe, em tenra idade, foi criada pelo pai, Ali Asger, um ativista revolucionário e membro do Hummet (Partido Social Democrata Muçulmano), que valorizava as artes e ensinou a filha a tocar piano e outros intrumentos musicais.

Em criança, Mammadbeyova também conheceu o trauma da invasão soviética. Casou-se aos 14 anos de idade com Bahram Mammadbeyova, um latifundiário que perdeu as suas propriedades com a colectivização implementada pelo estado. Teve o primeiro filho aos 16 anos. Enquanto frequentava o Clube Abilov, dedicado à educação para as mulheres, ouviu falar de um aeoroclube recém-criado em Baku, no qual se inscreveu e onde foi aceite depois de um exame médico. Mas fê-lo em segredo no início, para evitar reações negativas de pessoas que acreditavam que o lugar de uma mulher era em casa, não no cockpit de um avião. Essas atitudes sexistas seguiriam Mammadbeyova por toda a sua vida.

Fez o seu primeiro vôo em 1931, equando tinha 20 anos. No ano seguinte,  frequentou a escola de aviadores em Tushino, Moscovo, deixando os seus dois filhos pequenos aos cuidados de uma babá. Aqui, ela estudou as propriedades e mecânica do biplano U-2. Enquanto frequentava a escola de aviação, o seu penteado tradicional tornou-se problemático. Mammadebeyova normalmente usava o cabelo comprido, em duas tranças, que ela enfiava no cinto ou no capacete de rádio, o que se revelava pouco prático e desconfortável. A gerência da escola decidiu que seria melhor que ela cortasse o cabelo comprido, mas teve antes que pedir autorização ao marido para o fazer.

Foi no aeródromo de Tushino que Mammadbeyova saltou de pára-quedas pela primeira vez, e por pouco não morreu quando este falhou a abrir à primeira. O pára-quedismo era uma actividade opcional no seu treino, e o seu instrutor desencorajou-a de tentar. O marido também ficou horrorizado com a perspectiva, mas ela era destemida. Mais tarde participou em concursos de pára-quedas entre as repúblicas do sul do Cáucaso e tornou-se numa celebridade.

Apesar dos seus feitos inéditos para uma mulher, após retornar ao Azerbaijão Mammadbeyova foi relegada a uma cargo de direcção numa biblioteca. Só após muita insistência dos seus apoiantes junto das autoridades locais é que conseguiu retomar a sua carreira como aviadora. De 1933 a 1941 foi piloto e instrutora no Aeroclube de Baku. Gostava de explorar o Azerbaijão pelo ar  e levava consigo muitas mulheres, e, às vezes, crianças, para vôos. Em 1934 fizeram um filme em sua honra, “Ismat” (Honra) baseado na sua história. Curiosamente, actuou como duplo da actriz que a interpretou no filme nas cenas de acção.

Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu não entrou em combate ativo, alegando estar a criar os seus filhos na época. Embora o Aeroclube de Baku tenha fechado devido à guerra, Mammadbeyou continuou a voar e a dar instrução a centenas de pilotos e pára-quedistas nos anos seguintes. Em 1949, por razões de saúde, deixou de pilotar, mas continuou ligada à Força Aérea do Azerbaijão, de onde se reformou em 1961. Os filhos lembram-na como uma mulher muito activa, que cozinhava lindamente nas celebrações do Nawroz - o Ano Novo Persa -, e era muito amada pelos seus netos e bisnetos. A pioneira da aviação é hoje um ícone do seu país.

Fonte: Sister Hood Magazine: http://sister-hood.com/sister-hood-staff/leyla-mammadbeyova-1909-1989/

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