Arte mudéjar: o Castelo do Alandroal

O castelo do Alandroal é um bom exemplo da arte mudéjar no Alentejo, na medida em se trata de uma fortificação encomendada por elites cristãs a um alvanél ou arquitecto de origem islâmica.

Esta fortificação foi mandada edificar, em finais do século XIII (1298), pela Ordem militar de Avis, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325).Trata-se de uma construção que utiliza o xisto da região, embora em alguns pontos se detecte a utilização de tijolo e mármore.

O seu arquitecto ou alvanél foi o mestre “Mouro Calvo” a quem, curiosamente, os senhores da vila e do castelo permitiram a colocação, numa esquina da torre da direita de uma das portas da fortificação, de uma lápide onde, além de o construtor se identificar, utiliza, no final dessa lápide, uma expressão equivalente à divisa dos reis nasrís de Granada mas transcrita em caracteres latinos. A inscrição é curiosa, na medida em que depois de algumas frases em português medieval, termina com a seguinte afirmação: "LEGALI : BI : IL : ILLALLA". Trata-se de uma forma algo disfarçada da expressão "Wa la Ghalib illa Allah" que, pela forma como foi separada, poderia iludir de alguma forma uma identificação automática com a divisa nasrí.

É possível encontrar nesta fortificação alguns dos traços mais significativos da arquitectura dominante nas fortificações do al-Andalus. Para além da existência de predominância de torres quadrangulares, verifica-se que a parte superior de algumas das torres prolonga-se para o interior, até à face interna da muralha – situação que obriga a que a torre seja atravessada por pequenos túneis sobre o caminho de ronda. Encontram-se torres com esta mesma configuração nas muralhas islâmicas de Sevilha que, eventualmente, podem ter servido de modelo ao arquitecto muçulmano deste castelo.

Mas o alvanél Mouro Calvo quis deixar, intencionalmente, uma outra marca da matriz islâmica andalusí; numa zona escondida do castelo, num ângulo de difícil visibilidade, foi colocada uma pequena janela que, construída no interior em tijolo maciço, exibe-se para o exterior no esplendor do mármore, desenhando uma abertura com um arco em ferradura enquadrado por um "alfiz" ou moldura, comum em sistemas decorativos da fase final do domínio islâmico.

A torre de Menagem, embora tipologicamente diferente das torres de época islâmica, tem, sobretudo a nível das abóbadas escalonadas da escadaria interior, paralelos com fortificações do reino de Granada – aspecto que está neste momento em estudo.

Esta fortificação é um exemplo da permanência, no sul do reino de Portugal, em finais do século XIII, do compromisso entre o mundo cristão medieval, dominante, dono de uma obra onde a sua matriz não está ausente e o peso que ainda têm os mestres construtores formados na "escola" andalusí, não se coibindo de deixar, marcados na pedra, elementos identificadores da sua origem cultural. Poder-se-á considerar, por este conjunto de circunstâncias, um dos melhores exemplos da arte mudéjar no Alentejo.
 
FERNANDO BRANCO CORREIA

http://www.discoverislamicart.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;24;pt&cp

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