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A mostrar mensagens de novembro, 2017

Cláudio Torres e Mértola

Em 1978, o arqueólogo chegou a Mértola e começou a desenterrar o passado. Ainda não parou. Encontrou esqueletos, bruxas, cristãos e muçulmanos, e uma história diferente daquela que aprendemos na escola .    Por Alexandra Prado Coelho (texto) e Pedro Maia (fotos) - PÚBLICO  Esta é a história de como um homem mudou uma vila e de como uma vila mudou um homem. Claúdio Torres chegou a Mértola em 1978. Passaram-se quase 35 anos. Hoje, o que Cláudio vê quando olha para a vila é o que ela foi desde há muito, muito tempo, vê camadas da História, vê o que nós vemos e o que nós não vemos. Vê pedras e vê para lá das pedras. E - de vez em quando - vê também o futuro. Mas esse demora a chegar. Encontra-se connosco no Café Guadiana e subimos uns metros de rua para entrar nos laboratórios do Campo Arqueológico de Mértola. Está tudo cheio de crianças - umas limpam, com a ajuda de escovas de dentes, moedas "antigas" (neste caso são mesmo escudos do século XX, e estão "

Cide Abdella, um Marabuto na Inquisição Portuguesa de Quinhentos

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A Inquisição portuguesa, criada em 1536, datava o início do medo coletivo que iria instalar-se entre os cristãos-novos e mouriscos do Reino de Portugal. A perseguição do Santo Ofício, embora tendo como alvo preferencial os cristãos-novos, não descuidou em momento algum da comunidade mourisca, acusada de praticar o cripto-islamismo, ou seja, o islamismo secreto. Em 24 de outubro de 1553, a perseguição inquisitorial contra os mouriscos descortinou um caso verdadeiramente excepcional. O meirinho da Santa Inquisição, João Gago, entregava a Brício Camelo, alcaide do cárcere do Santo Ofício, o mourisco Duarte Fernandes (1), tido por marabuto ou cacis, isto é, uma espécie de “guia religioso e espiritual”, santificado pela visão popular e que segundo os mouriscos “pregava aos mouros assim como no Reino pregava um pregador aos cristãos” (2), por ser um “grande letrado” (3) e conhecedor da lei alcorânica. A prisão do marabuto Duarte Fernandes instalou o pânico entre os

O Louvor da Hispânia na Cultura Letrada Medieval Peninsular

Na Hispânia, quando o espaço peninsular se encontrou unido e pacificado pelos Visigodos, e depois da vitória sobre os ‘Romanos do Oriente’, surgiu numa obra historiográfica do punho de Isidoro de Sevilha um texto denominado “Laude Spaniae” e que é, pela primeira vez, o assumir de um louvor às excelências da Hispânia, a ela e só a ela. Essa dissertação, brilhantemente lapidada pelo Bispo de Sevilha, veio a estar na origem de um outro texto, com semelhanças tipológicas, e que representou, uns séculos depois, o culminar destas ‘laudes’, embora dentro de um quadro político e cultural distinto daquele que existia no reino visigodo. Esse auge deu-se quando a historiografia hispano-árabe ligada ao Califado de Córdova, num discurso ideológico legitimador daquele mesmo poder Califal, receptou, a partir da cultura cristã visigotico-moçárabe o conceito de que esta sagrada terra do fim do Mundo, gera príncipes bons e justos, sagrando-os porque seus naturais. Desta forma o novo Cal

"A Europa era uma espécie de Maria Antonieta"

Por Paulo Moura, "Público", 31/03/2008 Slavenka Draculic, que esteve em Lisboa a apresentar o seu livro "Não faziam mal a uma mosca", sobre os julgamentos dos crimes de guerra da ex-Jugoslávia, é a escritora dos paradoxos Antes da queda dos regimes comunistas, os países do Leste da Europa sonhavam com o Ocidente. Sonhavam com a Europa. Com uma Europa que imaginavam. Depois, foi a decepção. "As pessoas que viviam sob o comunismo não podiam viajar, não conheciam o Ocidente. Pensavam que, lá, toda a gente era rica, tinha um bom carro e roupas maravilhosas. Na nossa imaginação, a Europa era uma senhora linda e frívola, rica e bem vestida, que só come bolos... Uma espécie de Maria Antonieta. Foram grandes expectativas, seguidas de um grande desapontamento", conta ao P2 Slavenka Draculic, a jornalista croata de 59 anos que escreveu vários livros sobre esse desapontamento.Como sobrevivemos ao Comunismo e não perdemos o Sentido de Humor foi o

Fernando Pessoa e a cultura árabe-islâmica: de Al-Cossar a Omar Khayyam

Por Fabrizio Boscaglia 2  Durante setenta e cinco anos, desde a morte de Fernando Pessoa até 2010, 3 a presença árabe-islâmica na obra do autor da Mensagem foi objeto de estudo em apenas duas ocasiões. 4 Trata-se de um breve escrito de José Augusto Seabra – publicado em 1996 e intitulado «Fernando Pessoa, Al-Mutamid et le sébastianisme» – e de um ensaio de Márcia Manir Miguel Feitosa, datado de 1998 e dedicado a Fernando Pessoa e Omar Khayyam. 5 Outra referência inerente a esta área dos estudos pessoanos é o trabalho de Maria Aliete Galhoz, que editou as Rubaiyat de Pessoa 6 inspiradas pela homónima obra poética de Omar Khayyam, 7 sendo que a presença do sábio persa na obra de Pessoa foi abordada, ao longo das décadas, também por outros investigadores, tais como Alexandrino Severino, Patrick Quillier e Jerónimo Pizarro, entre outros.  Na presente comunicação pretende-se dar a conhecer alguns textos contidos nos arquivos pessoanos, com o intuito de apresentar