Alhazen, o primeiro cientista (séc. X)



Gravura representando uma experiência conduzida por Alhazen, físico e matemático árabe do séc. X, que observou como se formavam as imagens no interior da sua tenda quando a luz do sol passava pelas frestas do tecido. Nos seus tratados de óptica, Alhazem descreveu os príncípos da “câmara escura”, a base da fotografia moderna. Numa experiência que realizou, numa sala escura, um pequeno buraco na parede deixava passar a luz do lado de fora. Colocou várias lâmpadas fora da sala e observou que um número idêntico de pontos de luz aparecia dentro da sala, na parede oposta ao buraco. Ao colocar um obstáculo entre a lâmpada e o buraco, um ponto de luz desaparecia e ao retirar o obstáculo o ponto de luz reaparecia. Logo percebeu que cada lâmpada e o seu correspondente ponto de luz eram alinhados perfeitamente numa linha recta que passava pelo buraco. Desta forma simples, Alhazen provou que a luz viajava em linha reta, defendendo assim a teoria da propagação retilínea da luz. Essa definição do raio de luz permitia descrever a sua propagação de uma forma puramente geométrica, e refutava a teoria grega de que a luz emanava do olho humano.

Alhazen (a forma latinizada do seu nome, que em árabe é Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haitham, أبو علي الحسن بن الهيثم), nasceu no ano 965 em Baçorá, agora Iraque, e morreu em 1040 na cidade do Cairo. Escreveu numerosas obras notáveis, pelo estilo e pelas observações sobre os fenómenos da refracção da luz, com especial incidência na refracção atmosférica ao nascer e ao pôr do sol. No seu Livro da Óptica (em árabe: Kitāb al-Manāẓir (كتاب المناظر)), publicado no início do século XI, propõe uma nova teoria sobre a visão. Embora diferente do modelo actualmente aceite, essa teoria foi revolucionária para a época em que foi proposta e é vista como um passo importante para a compreensão da visão. Outra contribuição importante sua foi para o método científico. Alhazen acreditava que uma hipótese devia ser provada pela realização de expriências, seguindo procedimentos sistemáticos e que podiam ser reproduzidos, assim já demonstrando similaridades do que hoje é considerado o método científico moderno, mais de mil anos atrás e séculos antes de Déscartes.

É considerado por muitos como o primeiro cientista, pelas suas contribuições na óptica, na astronomia, na física, na matemática, filosofia e pelo pensamento de que o conhecimento científico só seria alcançado através de uma postura céptica por parte do pesquisador, que deveria comprovar as suas hipóteses sempre pela experimentação que podia ser reproduzida. A UNESCO denominou o ano de 2015 como o Ano Internacional da Luz e homenageou Ibn Alhazen pelo milésimo aniversário da publicação do seu Livro da Óptica.

Pouco se sabe sobre a sua infância e adolescência, mas Alhazen fez parte de uma era prolífica da civilização muçulmana, quando esta encorajava o conhecimento e a inovação científica e criava grandes bibliotecas e escolas por todo o seu território. Os primeiros estudos da sua vida foram dedicados à religião. Contudo, Alhazen cedo se aborreceu com isso e tomou a decisão de dedicar-se inteiramente à ciência, que ele achou muito bem descrita nos trabalhos de Aristóteles. Tendo tomado esta decisão, o resto da sua vida foi voltado ao estudo da Matemática, Física e outras ciências.

Já no Egipto, Alhazen foi contratado pelo califa fatimida Al-Hakim pela sua ideia de controlar o fluxo do rio Nilo através da construção de diques, algo que ele rapidamente percebeu ser uma tarefa impossível. Para fugir à ira do Califa, que ficou muito zangado e se sentiu enganado, fingiu-se louco e foi posto em prisão domiciliária por este, só sendo liberto depois da morte de Al-Hakim. Foi nesses dez anos de reclusão que escreveu o Kitab al-Manazir, o Livro da Óptica, e se apercebeu dos princípios da “Albait Almuzlim”, câmara escura em árabe

Alhazen terá escrito cerca de 92 trabalhos, dos quais apenas 55 nos chegaram aos dias de hoje. O Kitab al-Manazir, em sete volumes, é considerado por muitos como a sua maior e mais importante contribuição. Foi traduzido para o latim como “Opticae thesaurus Alhazeni” em 1270. Antes dele, a principal obra sobre Óptica era o Almagesto, de Ptolomeu, e embora o trabalho de Alhazen não tenha tido a mesma influência que o Almagesto, ainda assim é considerado como a próxima grande contribuição ao assunto, tanto que ficou conhecido entre os estudiosos europeus como "o segundo Ptolomeu".

[Adaptado da Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Alhazen) e do ensaio “A Óptica de Ibn al Haytham”, de Peterson Carvalho (http://www.ghtc.usp.br/server/Sites-2008/Peterson-Carvalho-2/index.htm)]

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