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A mostrar mensagens de dezembro, 2017

Dante e o Islã

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Está firmemente estabelecido que Dante foi influenciado por muitas fontes muçulmanas. Logo, a questão não é se Dante mergulhou nesses textos diretamente, mas sim como ele teve a acesso a eles durante a Idade Média. No livro, "La Escatologia Musulmana em la Divina Comedia" (A escatologia islâmica na Divina Comédia, em tradução livre, publicado em 1919), Asín Palacios passa centenas de páginas documentando as notáveis semelhanças entre a ascensão alegórica de Dante do inferno ao paraíso, e as jornadas descritas por diversos textos dentro da tradição islâmica, especialmente as várias versões da jornada noturna do Profeta Maomé ao inferno e a ascensão ao paraíso. Ainda faz sentido ler o livro de Asín Palacios após tanta pesquisa sucessiva ter substanciado suas alegações? Sim, por ser agradavelmente escrito e apresentar uma imensa quantidade de comparações entre Dante e seus "precursores" árabes. E é ainda mais relevante hoje – uma época em que, perturbadas

O amor divino no "Livro do Amigo e do Amado": influências do Sufismo em Raimundo Lulo

Durante a Idade Média, sobretudo entre os séculos XII e XIII, surgiram diversos textos e obras onde os seus autores apresentaram a ideologia do sentimento mais sublime que o místico poderia alcançar: o amor de Deus. O amor divino foi (e continua a ser) uma das temáticas predominantes dos místicos cristãos e muçulmanos e Raimundo Lulo não foi alheio ao espírito da sua época. Como franciscano, vivenciou a pobreza difundida por S. Francisco de Assis e escreveu a obra "O Livro do Amigo e do Amado", onde são apresentadas as características do amor divino, assim como a relação entre o amigo e o Amado, ou seja, entre o místico e Deus. Porém, se na obra estão presentes algumas das características da mística cristã advindas do ascetismo oriental, desenvolvido sobretudo na Síria e no Egipto entre os séculos IV e VI, outras têm claramente a sua origem no Sufismo. Assim, é neste contexto que se insere este estudo, seguindo uma metodologia comparatista que consiga demonstra

A ilha e o imaginário árabe

A febre das ilhas, que veio a apossar-se dos descobridores portugueses, já fervilhava nas veias dos nossos antepassados luso-árabes, como mostra a célebre “Lenda dos Aventureiros”, dos tempos da Lisboa mourisca, tal como é contada pelo grande geógrafo árabe medievo, al-Idrîsî, na sua “Descrição da África e da Espanha”. Nas lendas islâmicas, do género “histórias de heroísmo e moralidade”, são frequentes exemplos do valor dado à simbólica ilha. De tal forma, que uma das mais famosas lendas, transmitidas pela leitura oral, se chama, precisamente, “Como as ilhas foram convertidas ao Islão”. É num episódio da “Ilha das Donzelas” da obra árabe “Livro da Pérola ou História do Tempo de Shatibî”, que Camões terá colhido inspiração para um episódio de “Os Lusíadas”, a Ilha dos Amores. ADALBERTO ALVES Todos os que se encantaram com as Mil e Uma Noites, essa obra-prima do maravilhoso universal, têm na memória a história de Sindbad o Marinheiro, na verdade, um conjunto de sete histórias, tant

Uma Leitura de Fernando Pessoa à Luz do Ruba'iyat de Omar Khayyam

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Nossa viagem pela vereda poética persa de Pessoa teve início com a leitura da obra “O tabuleiro antigo: uma leitura do heterônimo Ricardo Reis”, da Profa. Maria Helena Nery Garcez, onde pudemos ter o conhecimento de que Pessoa lera a primeira tradução inglesa do Ruba’iyat de Omar Khayyam, a de 1859, feita pela tradutor vitoriano Edward Fitzgerald. A partir dessa singular possibilidade de análise da obra pessoana, fomos instigados à leitura da comunicação pioneira que Alexandrino Severino apresentou no I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, realizado no Porto, em 1978, intitulada "Rubaiyat, um poema desconhecido de Fernando Pessoa". Nela, o autor dá a conhecer um poema escrito pelo ortônimo nos moldes do ruba’i (composição poética persa em forma de quarteto), já publicado por Pessoa em 1926, no número três da terceira série da revista Contemporânea, e que tinha até então passado despercebido pela crítica literária. Por fim, nossa viagem desembocou nas quinze rub